quinta-feira, 29 de março de 2012

Passagens da antigüidade ao feudalismo

Passagens da antigüidade ao feudalismo é uma obra de caráter marcadamente marxista. Perry Anderson não pretende neste livro cumprir a função de um historiador no sentido clássico do termo. O autor enfatiza que não trabalhou com fontes e sim com pesquisas realizadas por outros historiadores, realizando uma síntese do que havia sido escrito sobre a antigüidade e o feudalismo para chegar a sua própria conclusão.

A obra se divide em duas partes, a primeira parte abordando a antigüidade clássica e o chamado período de transição, pretende retratar o modo de produção escravo e o mundo grego e romano, bem como as invasões bárbaras e suas conseqüências para o sistema até então existente na Idade Antiga. A segunda parte procura dar conta da retratação do sistema feudal em oposição ao sistema vigente na Europa Oriental, fornecendo a chave para o entendimento do desenvolvimento desigual do feudalismo no Ocidente e no Oriente europeu.

Cabe lembrar que, em seu conjunto, este livro chegou a ser considerado como uma introdução ao entendimento da moderna sociedade capitalista, daí, naturalmente, sua grande importância em nossos dias.

Esse trabalho nos dá uma visão marxista de pontos cruciais sobre a vida econômica da Europa e do Oriente próximo. Não chega a aprofundar um único ponto, mas lança a tese de que o modo de produção escravo foi determinante no desenvolvimento social e econômico das sociedades antigas e o colapso no Ocidente esteve relacionado à falência deste tipo de método produtivo.

Portanto podemos concluir que Perry Anderson conseguiu mostrar-nos uma visão sobre uma época em que a economia e a política se entrelaçavam e ditavam as regras gerais da vida social para a época e quanto o trabalho escravo era importante e usado principalmente na agricultura, nos mostra também a precária situação dos mesmos perante a sociedade antiga.

As origens do capitalismo.

O autor inicia lembrando que as diferenças culturais, sociais e econômicas entre o leste e o ocidente europeu, presentes já na historiografia do século XIX, remontam a origens muito antigas. O resgate destas origens passa necessariamente pelo estudo da antigüidade e do modo de produção então vigente.

Tentando entender como o sistema escravista, que sustentou o Império Romano, pode se desintegrar, propõe um recuo até os primórdios da civilização no mundo clássico. Todo esplendor do mundo greco-romano, suas cidades, o desenvolvimento da ciência, da manufatura e do comercio, ao contrário do que se poderia imaginar, estava basicamente sustentado por uma economia agrária. Sendo assim, as cidades nada mais eram que conglomerados de proprietários de terra e não de artífices, mercadores ou negociantes.

No mundo antigo, realmente as manufaturas tinham uma série de limitações, uma vez que baseadas em técnicas simples, possuindo uma demanda pequena para os produtos, estando ao mesmo tempo dispersas por um grande território. Isto sem contar a dificuldade de transporte que obrigava os produtores a se fixarem próximos ao seu público consumidor.

Já o comercio, por sua vez, estava confinado, também devido à dificuldade de transporte, a faixa litorânea do mar mediterrâneo, era, portanto, igualmente, restrito. Dentro deste contexto, o modo de produção escravista foi uma invenção que possibilitou o afloramento da cultura greco-romana.

Trabalho escravo e capitalismo.

O trabalho escravo no campo permitiu que os proprietários de terra pudessem se dedicar a outras atividades, estas sim urbanas. O sistema escravista, ao transformar a força de trabalho em mero instrumento de trabalho, representou o máximo da degradação humana, tal como ocorreria também, bem mais tarde, no Brasil Colônia.

No mundo antigo, o escravo era considerado como instrumento vocal, ou seja, instrumento de trabalho capaz de falar, estando apenas um grau acima do gado, este último chamado de instrumento semi-vocal. O escravo era apenas mais um item utilizado na produção, embora contraditoriamente fosse o trabalho de seu esforço que realmente sustentava todas as realizações do mundo greco-latino.

Assim, a escravização por dividas e através da guerra, forjou um sistema no qual o trabalho escravo criou excedentes que sustentaram a riqueza e o conforto da classe urbana da antigüidade clássica. Ao mesmo tempo constituiu o elo que unia a cidade ao campo. Entretanto, o preço a ser pago por este esquema brutal foi alto, as relações escravistas de trabalho traziam grandes limitações.

Problemas inerentes ao escravismo.

O trabalho escravo da Antiguidade clássica, portanto incorporava dois atributos contraditórios em cuja unidade está o segredo da paradoxal precocidade urbana do mundo grego-romano. Por um lado, a escravidão representava a mais radical degradação rural imaginável do trabalho – a conversão de seres humanos em meios inertes de produção, por sua privação de todo direito social e sua legal assimilação às bestas de carga: na teoria romana, o escravo da agricultura era designado como sendo um instrumentum vocale, um grau acima do gado, que consistia um instrumentum semi vocale, e dois acima do implemento, que era um instrumentum mutum. Por outro lado, a escravidão era simultaneamente a mais drástica comercialização urbana concebível do trabalho: a total redução da individualidade do trabalhador a um objeto de compra e venda, nos mercados metropolitanos de comércio de mercadorias. (pg. 24)

Entre os Gregos

Com o advento dos chamados tiranos (650-510 a.C.), homens que representavam os proprietários de terra mais novos, o domínio da aristocracia foi rompido em favor dos pequenos proprietários agrícolas. Isto só foi possível graças a uma significativa mudança na organização militar das cidades, representada pelo surgimento dos hoplitas.


Os tiranos gregos reestruturaram o exército a fim de que este pudesse lhes garantir apoio contra a grande aristocracia rural. Cada cidadão passou a ter o dever de servir como militar, devendo providenciar e custear seu próprio equipamento, o que assegurou a formação de uma classe média com capacidade de exercer pressão sob o governo.

Assim, nasceu a democracia na Cidade-Estado grega, onde cada cidadão passou a possuir direitos políticos. Atenas rapidamente se tornou o modelo de Cidade-Estado democrática, não obstante, as monarquias hereditárias sobreviveram, tendo em Esparta uma líder natural. Desta forma, estas duas tendências, incompatíveis, terminaram entrando em um conflito cada vez mais intenso que resultou na Guerra do Peloponeso, que por sua vez enfraqueceu o poder tanto das Cidades-estados democráticas como monárquicas.

Dentro deste contexto, uma monarquia tribal do interior montanhoso da Grécia terminou por dar origem ao Império Macedônio. Reunidos ao redor de um Rei hereditário, formou-se uma nobreza tribal com laços de sangue com o rei, compondo um circulo de companheiros reais que fornecia seus conselheiros e governadores, o que garantiu a lealdade ao Rei, e que por sua vez permitiu a formação de um poder centralizado.

Este fator, associado a inovações militares, tal como a substituição dos hoplitas, que necessitavam de equipamentos caros e pesados, por uma falange, onde tudo que era necessário para fazer parte do grupo era possuir uma lança longa, bem como o uso da cavalaria, garantiram ao Império Macedônio dos Felipes inúmeras vitorias.

O ápice foi alcançado sob o reinado de Alexandre, o Grande. O Império Macedônio, também chamado de mundo helênico, mais do que um fenômeno militar, representou uma integração cultural e política do mundo antigo, onde a cultura se tornou eclética.

Não obstante, o Império não resistiu à morte de Alexandre, as lutas internas entre seus generais acabam fragmentando o Império. Primeiro ele foi dividido em quatro regiões: Mesopotâmia, Egito, Ásia Menor e Grécia. Depois se desintegrou quase completamente.

O mundo antigo só seria unificado novamente pelo Império Romano.

A queda do Império Romano no Ocidente foi determinada basicamente pela dinâmica do modo de produção escravo e suas contradições, uma vez detida a expansão imperial. A razão essencial por que foi o Império Ocidental que desmoronou no século V , e não o Oriental, é que foi ali que a agricultura escrava extensiva encontrou seu hábitat nativo, com as conquistas romanas da Itália, da Espanha e da Gália. Nestes territórios não havia civilização anterior madura para resistir à nova instituição latina do latifúndio escravo, ou modifica-la. Assim foi sempre nas províncias ocidentais que a lógica desumana do modo de produção atingiu sua mais completa e mais sinistra expressão, definitivamente enfraquecendo e fazendo ruir todo o edifício imperial. No Mediterrâneo oriental, por outro lado, a ocupação romana nunca foi superposta a uma semelhante tabula rasa. Ao contrário, encontrou ali um meio ambiente costeiro e marítimo que já havia sido densamente povoado com cidade comerciais pela grande onda de expansão grega no período helênico. Fora esta colonização grega anterior que havia estabelecido a ecologia social básica do Oriente, do mesmo modo a posterior colonização romana estabeleceria a do Ocidente. As duas faces críticas deste modelo helênico, como vimos, eram a relativa densidade das cidades e das dimensões relativamente modestas da propriedade rural. A civilização grega havia desenvolvido a escravidão agrícola, mas não a sua organização extensiva num sistema de latifúndios; seu crescimento urbano e comercial fora mais espontâneo e policêntrico que o de Roma. (pg. 256-257)

Foi neste ambiente conturbado, de defesas desmanteladas e massas rurais desesperadas, que os bárbaros germânicos cruzaram o rio Reno no último dia de 406, marcando o inicio das invasões bárbaras. Mas afinal quem eram estes bárbaros?

Entre os bárbaros

No período do apogeu grego, para estes, os bárbaros eram todos os povos não helenizados. Em contrapartida, para os romanos, todos os povos instalados fora das fronteiras do Império no ocidente eram considerados como bárbaros.

Os povos ditos bárbaros viviam em meio a um modo de produção comunal primitivo, onde a propriedade da terra era desconhecida, e ano a ano os líderes de cada tribo faziam a redistribuição da terra para evitar que uns tivessem mais privilégios que outros.

A riqueza era por isto determinada pela posse de rebanhos e não da terra. Além disto, inexistia entre estes povos chefes políticos em tempo de paz, que eram eleitos em tempo de guerra. A própria estrutura de muitos clãs era ainda matriarcal.

Não obstante, esta rudimentar estrutura social foi rapidamente modificada com a chegada dos romanos ao Reno no século I d.C., o contato com os legionários do Império Romano produziu uma crescente estratificação interna das tribos germânicas.

Para comprar bens dos romanos, os líderes tribais passaram a vender gado e fazer incursões sobre tribos visando capturar escravos para exportar aos mercados romanos.

Logo, a redistribuição de terra, entre os germânicos, tornou-se cada vez menos freqüente até extinguir-se completamente, contribuindo para a formação de uma aristocracia hereditária, com fortuna acumulada, que passou a compor um conselho permanente com poder estratégico na tribo.

Assim, tanto econômica como politicamente, por meio de trocas comerciais e da intervenção diplomática, a pressão romana acelerou a diferenciação social e a desintegração do modo de produção comunitário entre os bárbaros.

Paralelamente, devido à crise interna do Império Romano, o número de guerreiros germânicos nas fileiras do exercito imperial tornou-se crescente, não só como soldados, mas também, em meio aos oficiais. Chegou ao ponto de um bárbaro ocupar a posição de magister militum, ou comandante-em-chefe do ocidente.


Invasões bárbaras

A primeira onda a assolar o Império Ocidental se iniciou na noite de inverno de 31 de dezembro de 406, quando uma confederação informal de suevos vândalos e alanos penetraram as fronteiras romanas ao cruzar o rio Reno congelado. Pouco depois, em 410, os visigodos saquearam Roma e, em 439, os vândalos tomaram Cartago. Estas invasões terminaram por fragmentar o Império Ocidental de maneira irreparável, por volta de 480.

Por esta altura, o primeiro sistema rudimentar de Estado bárbaro já havia se estabelecido. Os invasores optaram por realizar uma síntese de sua cultura com a romana. Na maior parte do território conquistado passou a imperar o chamado sistema de hospitalidade.

Os proprietários das vilas romanas doavam aos invasores um ou dois terços de suas terras em troca de proteção, e parece estar, justamente, fixado aí a origem do sistema de vassalagem que iria se popularizar com o feudalismo.Os bárbaros germânicos adotaram o cristianismo, e em contrapartida a lei germânica foi adotada pelos romanos.

Significativamente, a escravidão agrária em grande escala foi preservada, junto com outras instituições rurais básicas do Império Ocidental, incluindo o colonato. Inseridas nesta síntese cultural, política e econômica as aldeias se multiplicaram, enquanto as vilas, como unidades organizadas de produção, declinaram frente à incerteza e a anarquia dos novos tempos.

Lembrando o conceito de síntese de Marx, Perry Anderson afirma que a catastrófica colisão dos dois modos de produção, bárbaro e germânico, ou seja, do primitivo e do antigo, acabou por produzir a ordem feudal e dissemina-la por toda a Europa medieval.

A fusão do legado romano e germânico, o comunitarismo germânico e o clientelismo romano, produziram a vassalagem européia. Surgiu assim o modo de produção feudal, economia regida pela terra, na qual nem o trabalho nem os seus produtores eram considerados bens. O produtor imediato, o camponês, não era mais como no mundo antigo instrumento de trabalho, mas, passava a estar unido ao meio de produção, a terra e aos instrumentos, como força produtora.

Estaria fixada aí a gênese da contradição deste sistema, pois o camponês estava sujeito a jurisdição de seu senhor, mas, por outro lado, este senhor seria vassalo de outro senhor feudal superior, formando uma cadeia que se estendia até um monarca. O que representou uma descentralização do poder em meio a um sistema cuja função era hierarquizar e, portanto, centralizar.

Sendo assim, a produção feudal era incompatível com a finalidade do próprio feudalismo. Apesar disto, o sistema feudal representou um avanço, afinal realizou ao mesmo tempo a síntese e a dissolução do modo de produção comunal e escravo.

Aliás, o feudalismo puro jamais existiu em qualquer parte da Europa, pois, na Idade Média, coexistiram o trabalho livre e o escravo, independentemente da servidão. Não obstante, apesar da implantação do modo de produção feudal em substituição ao Império Romano do Ocidente, no extremo norte a cultura Escandinávia preservou a estrutura social viking.

Entre os vikings

O colapso da antigüidade não atingiu este povo, cuja organização camponesa armada, chefiada por um poder monárquico semi-eletivo e precário, assolou o mundo feudal do século VIII ao XI. Bandos vikings saquearam a Irlanda, a Inglaterra, a Holanda e a França. Pilharam até mesmo a Espanha, a Itália e Bizancio. Além do que, colonos vikings, acabaram por povoar a Islândia e a Groenlândia, criando um Estado territorial na Rússia.

Os ataques vikings contribuíram, assim, para a consolidação do feudalismo, gerando um clima de insegurança responsável pela descentralização do poder. Contudo, depois de três séculos de ataques e colonizações além-mar, a dinâmica da expansão viking chegou ao fim com o último grande ataque norueguês à Inglaterra em 1066. O sistema feudal e sua organização militar terminaram prevalecendo sobre os ataques vikings.

O feudalismo.

Na esteira das invasões vikings, Perry Anderson sustenta que a dinâmica feudal surgiu propriamente no século X, expandindo-se no XI, trazendo inúmeras inovações, tal como o arado de ferro para lavar, os arreios firmes para tração eqüina, o moinho de água e o adubo calcário, a despeito da fragmentação da sociedade.

Foram avanços responsáveis por um impressionante aumento da produção agrícola, que gerou, por sua vez, excedentes que intensificaram o comercio. É exatamente neste contexto que diversos setores da sociedade criaram um apetite pelo consumo de bens para o conforto e o luxo.

A usura, o empréstimo a juros aos grandes príncipes desprovidos de valor monetário, ganhou força, as moedas começaram a serem cunhadas novamente.Apesar da relativa prosperidade, a sociedade foi apanhada de surpresa por um recuo no desenvolvimento, foi à chamada grande crise do século XIV, gerada pelo aumento populacional (devido à melhoria das condições de vida), e a conseqüente falta de terras férteis em número suficiente para alimentar toda a população.

Estes fatores associados a safras ruins e umas série de catástrofes naturais, tal como a peste negra vinda do Oriente, causou, no século XIV, uma inevitável escassez de dinheiro que afetou as operações bancarias e o comércio. Foi visando enfrentar esta crise que, devido à necessidade de um poder fortemente centralizado, ou seja, de concentração de esforços, o feudalismo entrou em crise, surgiram então às monarquias nacionais.

No leste europeu

Ao contrário do Ocidente, o leste europeu, território relegado a segundo plano desde a antigüidade, que nunca havia sido integrado ao sistema imperial romano, sofreu um lento desenvolvimento agrícola. Sucessivas ondas de invasões contribuíram para a formação de uma cultura pastoreira nômade.

O primeiro e mais famoso destes choques foi o sombrio ataque dos hunos, que precipitou a queda do Império Romano no século V, seguido pela invasão dos ávaros no século VI, da cavalaria búlgara no VII e dos nômades magiares no XI e XII.

Estas inúmeras invasões forjaram uma sociedade baseada em um sistema de produção móvel, com tendência a submissão ou agregação a outros povos, ao mesmo tempo preparado para a guerra, constituindo Estados predatórios. A não utilização das terras deixou reservas disponíveis que, com a influência do feudalismo ocidental, passaram a ser utilizadas mais tarde.

Como no Ocidente, o expansionismo Viking estimulou a formação de feudos no leste europeu, no entanto, nestes, dada sua formação tardia, os camponeses possuíam mais privilégios e uma qualidade de vida melhor do que a de seus pares ocidentais, embora certas inovações tecnológicas agrícolas só tenham chegado a alguns locais no século XIX.

De qualquer modo, a proximidade com o Oriente fez apareceram rotas comerciais que estimularam o aparecimento e crescimento das cidades no leste europeu.Surgiram, assim, centros urbanos controlados por comunas independentes, com um próspero comércio exportador e animada vida política.

A sociedade do leste europeu era muito mais dinâmica que a ocidental, senhores feudais moravam nas cidades próximos a burgueses, enquanto estes adquiriam feudos. Contudo, a crise do feudalismo europeu atingiu também o leste, porém, mais tarde que o ocidente.

No século XIV, terras e cidades foram deixadas abandonadas pela população que migrou mais para o leste em busca de novas terras em substituição as de solo esgotado. Como havia muita terra, quando se esgotou o solo, a melhor solução foi à migração.

A resposta a crise foi à extinção das cidades e a perda de direitos dos camponeses do leste, houve um endurecimento do feudalismo que persistiu até o século XIX.

Concluindo

Paralelamente a esta situação no Ocidente, o Império Romano sobreviveu no Oriente. A capacidade de Bizâncio de repelir ou assimilar com sucesso as invasões foi o fator determinante. Porém, o Império Bizantino ficou estático entre o modo de produção escravo e feudal, o que levaria a sua extinção.

Sua agricultura, por exemplo, ficou estagnada não registrando avanços significativos. Assim, o expansionismo Otomano foi responsável por sua queda no século XV. Segundo Perry Anderson, o mundo medieval terminou em uma crise generalizada tanto no Ocidente como no Oriente. O que abriu caminho, no século XV, para a ascensão das monarquias nacionais absolutistas.

Síntese da retratação da antigüidade, Passagens da antigüidade ao feudalismo narra, de fato, o modo pelo qual, de formas diferentes, o Ocidente europeu, o leste, e o Oriente passaram da antigüidade ao feudalismo, constituindo realmente diversas passagens intercruzadas de um modo de produção ao outro.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O Tratado dos Viventes

Formação do Brasil no Atlântico Sul – Séculos XVI e XVII” –
Luiz Felipe de Alencastro.


O argumento central do livro é que “a colonização portuguesa, fundada no escravismo deu lugar a um espaço econômico e social bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos centrada em Angola”. Para o autor, as duas partes “se completam um só sistema de exploração colonial”.

Mais do que escrever um livro sobre a história do período colonial vivido pelo Brasil, Luiz Felipe de Alencastro mostra a importância de não analisá-lo como uma época reclusa ou apenas ligando-o às rédeas metropolitanas: é preciso enxergar além. É preciso enxergar um mundo ultramarino no qual a América portuguesa se incluía. A formação do Brasil e o sentido da colonização, vertentes delicadas dos estudos históricos brasileiros e, às vezes, evitada pelos historiadores, são lidadas pelo autor, que procura mostrar como o “Brasil se formou fora do Brasil”.

Os conflitos entre portugueses, espanhóis e holandeses no século XVII permitem vislumbrar o funcionamento deste sistema e as particularidades que o marcaram naquele século. Os traficantes portugueses arremataram todos os Asientos leiloados pela Coroa Espanhola durante a União Ibérica. Assim eles passaram a controlar o mercado escravista hispanoamericano. A mão de obra de africanos se tornava necessária pela grande mortalidade indígena no trabalho das minas, mas a Espanha não tinha estrutura para fazer seu próprio tráfico. Os desembarques dos assentistas se concentravam em Cartagena, Vera Cruz e Buenos Aires. Boa parte da redistribuição se fazia por terra, gerando uma grande mortandade entre os escravos. Durante o período do Asiento, os portugueses montaram duas fortalezas no litoral (Luanda e Benguela) e três no interior (Muxima, Maçango e Cambambe). Após 1640, parte da estrutura gerada pelo capital do Asiento se encaixa no sistema de tráfico integrado ao Brasil.

O autor aponta como formou-se a colonização: ela não era um processo já pronto, mas sim um resultado de aprendizado dos colonos. Em seguida, mudando de margem atlântica, a análise vai à África, focando nas rotas comerciais das caravanas, e como elas foram vencidas pelas caravelas, a partir de análises materialistas e de ideologias cristãs. A "transmigração" negreira do atlântico-sul novamente endossa o coro da impossibilidade de separação das costas atlânticas. Este "miolo negreiro" tinha como centro a capital lusa e Alencastro parte a mostrar como se articulava essa Lisboa com o tráfico de escravos, passando por banqueiros, asientistas e perseguições a cristãos-novos, e apresenta mais uma face ao processo, quando cogita o "comércio triangular negreiro”.

A sociedade escravista brasileira não se ocupava somente do trato negreiro. Para não negligenciar esse aspecto importante, o autor apresenta a escravidão indígena na América portuguesa. O interesse na preservação das sociedades indígenas passava por vários aspectos, desde um aliado em potencial aos assédios estrangeiros ao novo mundo, potencializados pela fraca presença militar, até a opção ideológica de evangelização. Em seguida, a evangelização negra é tratada por Luiz Felipe de Alencastro, que traz à tona a teoria fundamentadora de Padre Antônio Vieira: só os negros cristãos conheceriam o resgate eterno do Paraíso. Os outros, vivendo no paganismo na África, estavam condenados ao Inferno.


Engana-se, porém, quem pensa que o tráfico era só o tráfico. Ou, melhor dizendo, que era só um negócio. Era também uma estratégia. Era a maneira de Portugal segurar as pontas de seu império atlântico, e aqui se dá à expressão um sentido literal – segurar as duas pontas, a americana e a africana, do espaço sob seu controle. Do abraço entre as duas costas da bacia sul-atlântica, por mais que seja esse um abraço tétrico, baseado, como diz o título do livro, no trato dos viventes, vale dizer, no comércio de seres humanos, surgem as condições nas quais seria criado o Brasil. "De conseqüências decisivas na formação histórica brasileira, o tráfico extrapola o registro das operações de compra, transporte e venda de africanos para moldar o conjunto da economia, da demografia, da sociedade e da política da América portuguesa", escreve o autor.

O autor chama a atenção da importância dos índios para a construção de canoas e de barcos em estaleiros fluminenses e vicentinos. No Rio de Janeiro teria sido construído o galeão Padre Eterno, de 2 mil toneladas e que poderia comportar 144 canhões. Era o maior navio do Império Português, pertencente a Salvador de Sá. Finalizando o raciocínio sobre a relação entre a queda nas importações de africanos e o intenso apresamento de índios, o autor considera que: “O índios do Sul não suprem a falta de africanos no Norte, mas ficam cativos em São Paulo e no Rio de Janeiro cultivando alimentos que fazem as vezes dos produtos europeus, platenses e brasileiros nas praças de aquartelamento da América Portuguesa” (p. 198).
As invasões holandesas e seus conflitos, que dominam a próxima parte da análise, são um ponto alto na análise de Alencastro: a presença holandesa no nordeste da América Portuguesa e em Angola, acionou os colonos de modo que ficou provado que sem um lado não existia o outro. Protagonizado pelos fluminenses – surgindo a figura do paulista como "anti-metropolitano" e "anti-jesuíta", um quase vilão na construção deste mundo Atlântico –, o movimento brasílico inicia a retomada de Angola assim como a expulsão holandesa do nordeste. Fechando o desenvolvimento, o último capítulo tem como foco a "Angola Brasílica", fruto do universo do Atlântico-Sul, e a maneira com que foram impostos os interesses luso-brasílicos na África.
Ao afirma que “... na costa ocidental da África se cristaliza, em detrimento de Lisboa, uma aliança concreta, incontornável, unindo luso-brasileiros e luso-africanos” (p. 238), o autor está se referindo a uma importante remodelagem na relação entre colônia e metrópole. Ao mesmo tempo, defende que teria havido uma transformação geográfica no seio da América portuguesa. Na segunda metade do século XVII, quando Salvador Correia de Sá volta ao Rio de Janeiro, abre-se na capitania – que foi bem sucedida na expulsão dos goitacás – um vasto território a ser ocupado com engenhos de açúcar. Para aí também tinham se mudado colonos fugidos dos conflitos com os holandeses no Norte. Aí também se desenvolveriam, via porto do Rio de Janeiro, intensas relações comerciais com Angola e com Buenos Aires. No começo do século seguinte, com o ouro, a região seria ainda mais dinamizada.

O livro de Alencastro não pretende ter personagens centrais – seu centro é o oceano e o que se traficava por cima dele –, mas, se fosse para ter, dois ressaltam como evidentes candidatos ao posto de artífices maiores do império luso sul-atlântico, ambos, não por acaso, luso-brasileiros. O primeiro é o Padre Antônio Vieira, dono de uma das maiores inteligências do tempo, cuja influência alcançava cortes e dioceses ao redor do mundo, e cujo domínio do idioma e elegância de expressão fez Fernando Pessoa honrá-lo com o título de "imperador da língua portuguesa". Se a Igreja forneceu uma ideologia ao escravismo e ao tráfico, ao apresentá-los como fatores de evangelização, e se os jesuítas, dentro da Igreja, foram os que mais propagaram tal conceito, entre os jesuítas foi Vieira quem o apresentou com mais audácia. Ele aparece no livro um pouco por toda parte, mas com mais destaque quando Alencastro cita o sermão XIV, em que, dirigindo-se aos africanos, defende que foi Nossa Senhora quem os trouxe ao Brasil, para que encontrassem a verdadeira fé. "Oh", diz Vieira, "se a gente preta tirada das brenhas de sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e Sua Santíssima Mãe, por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!"

Ao finalizar, a pergunta é retomada: o que Luiz Felipe de Alencastro quer dizer com a “Formação do Brasil no Atlântico Sul”? Talvez queria compartilhar da idéia de Charles R. Boxer, que alega a existência de um imperium português. Talvez queira também mostrar que é preciso abrir os olhos para entender o Brasil como parte integrante de um processo e não como uma vítima da vontade lusitana. É claro que a metrópole teve a chance de exercer seu papel, e assim o fez, mas, assim como Portugal, Angola e Brasil também foram agentes históricos. E de tal maneira, formou-se um mundo entre essas partes. Simbiose, desenvolvimento mútuo que, inegavelmente, foi possível pela mentalidade lusa de governo e todos os entremeios sucedidos nos três séculos de colonização. Desta maneira, fica ainda mais inteligível o processo de formação do Brasil como "de um império a outro", conforme as idéias da Wilma Peres Costa. Por tudo isso, a obra de Luis Filipe de Alencastro é indispensável para, além do entendimento da formação brasileira, perceber e entender as relações humanas no tempo e espaço, de forma conjunta, o que é o cerne da análise historiográfica atual.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Resenha sobre o livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko




O livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko na sua 20° edição vem acompanhado de uma entrevista do autor que traz uma serie de discussões que nos ajuda  compreender o  período histórico.



O Professor Nicolau ,  formado em História pela USP em 1981 e onde se doutorou e hoje faz parte dos quadros de professores,  se qualifica como “andarilho vacilante”  para representar sua  forma de pesquisa e de busca a História, “ um  sonâmbulo que é guiado por  sonhos” mostrando que um historiador  tem quer estar livre para  a  pesquisa e se deixa guia pelos objetos.



Na entrevista o autor sustenta que o interesse pelo tema Renascimento foi influenciado pelo meio social que convivia, de amigos e amigas da areia de História da Arte. Nos faz   compreender  que “esse conhecimento é importante  para nos  ilustra o processo de construção cultural do homem moderno e da sociedade contemporânea”.  Assinala que  nesse processo de queda do feudalismo e inicio do capitalismo onde diante da pobreza e miséria o capital surge  forte  e robusto, é muito  por  conta do individualismo que o renascimento foi  uns dos responsáveis. Citando uma fala de um personagem de Shakespeare:”Ouso tudo que é próprio de um homem, quem ousa fazer mais do que isso não o é.” afirmado a posição do homem enquanto centro.” Tudo que os renascentistas pretendiam era assumir a condição humana até seus limites, até as ultimas conseqüências

O livro trata do período dito renascentistas  entre o século XIII e meados  XVII um período grande de estudos dispostos em 87 paginas, que acredito ser  muito pouco para demonstra boa parte do que foi em todo seu apogeu esse movimento que em geral estudamos mais as matérias ligadas as Artes e Nicolau que apresenta  um recorte dessa Arte de certa forma no contexto e impacto social.



 Uma visão histórica do período mostra como estava a o Ocidente  europeu no fim da Baixa Idade Média, o crescimento econômico  o surgimento das  grandes cidades (burgos) e dos domínios do  mar mediterrâneo, destacando que o século XV foi o século do comércio.



Outro  fator  importante  seria os principais elementos que irá dar  força ideológica para o surgimento do Capitalismo e o fim do Feudalismo na Europa. Os elementos que levaram o fim do feudalismo também impulsionaram para que o movimento renascentistas tivesse a amplitude que teve como por exemplo a Peste Negra, uma doença ligada a pouca higiene e falta de saneamento básico  que ocasionou a morte de milhões de pessoas, afetaria demograficamente  as cidades e regiões da Europa. Fazendo  com que os Senhores feudais comprasse mais taxas dos camponeses que no processo de arrocho e eclodiram varias revoltas nesse período, por  fim, o sistema assalariado e de arredamento fez com que se criasse o sistema do dinheiro, dando inicio assim ao capitalismo.

Nesse processo quem saiu  fortaleceu foi a Monarquia  que teve  como problema para organizar um Estado com força e  único, onde  antes só a havia o poder pulverizado dos feudos.  Foi então criado um corpo burocrático para a nova  ordem política social e econômica , a partir  é  claro dos escalões da burguesia, tendo como referencia as casas  financeiras e os  grandes traficantes, essas  casas comercias  possuíam a  burocracia necessária e já habitavam dimensões nacionais e internacionais.

Com a nova  ordem social as relações individuais de empregados e empresários se colocaram como series isolados na sociedade. Esse começaram a ser regidos pelas as leis do mercado, conduzido os indivíduo para a livre concorrência, foi assim que se deu varias transformações nas técnicas nas areias de agricultura, metalurgia e diversas outras  forma do trabalho .

 É nesse  momento também com a invenção do relógio que o tempo começa a ser vendido, cada minuto agora tem valor, não muito diferente dos tempos atuais. Então o autor começa a destaca o papel dos intelectuais nesse processo.

Os humanistas tem papel central em todo esse  crescimento e mudança de comportamento do período, esses  são os homem que “ desde o século XIV vinhas se esforçando para  modifica e renovar o padrão de estudos ministrado nas universidade medievais” que nesse  contexto são controlados basicamente  pela  Igreja. Eles queria radicaliza  a universidade, sair  de uma perspectiva da alma( ligado a Igreja) para o estudos  dos humanos , e esse movimento deu origens as diversas areias de estudos como exemplo a história, matemática etc



Os  humanistas consideravam como mais perfeito e expressivo a cultura antiga derivada do paganismo, não que eles tivessem virado ateus, ou contrários vários eram ligados direta ou diretamente a igreja, eles desejam na verdade reinterpreta  a  mensagem do Evangelho com base nos  estudos do tempos antigos.

O autor nos  mostra que um ponto importante  a se destaca no pensamento  humanista é a critica da cultura tradicional, fazendo uma leitura permanente e continua voltada  para  a concepção de mudanças, para  a transformação das mudanças, contraponto os teólogos da igreja com seus princípios medievais que levava ao “pensamento único vindo de Cristo e  do Juízo final”.

O Renascimento

Ainda hoje será postado uma resenha, o Livro O Renascimento  de Nicolau Servenko, Professor Titular da USP, um livro muito  bom que traz uma historial geral desse período da historia um dos momentos  de mais "Criatividade", o autor vai começa a nos  dando um subsídios histórico importante, falando da crise do Feudalismo  e  inicio do Capitalismo, no processo onde a monarquia  e a burquesia sideram muito  bem nesse processo, é claro que ele  faz a leitura desse processo aparte da Europa e basicamente da parte ocidental, onde Florença Itália tem o Papel espacial.E assim ele entra na historia do Movimento Renascentista trazendo o papel dos Filósofos e intelectual na época que juntos com o movimento de ruptura do feudalismo, proponha a ruptura com os dogmas da igreja da época, e isso vai descamba em perseguição e muitas  morte em nome de um ideá de mudança de mundo e logica sobrevivência, no fim nos damos  conta da importância politica e cientifica que esse movimento deu para  mundo, levando em conta que esse  movimento é sempre reduzido as artes, não que as artes  não tenha sido o principal caminho para essa disputa contragemônica.