segunda-feira, 4 de junho de 2012

Verbetes Políticos da Enciclopédia

Diderot foi um destacado pensador francês. Contemporâneo de Voltaire, ele
teve participação intensa no movimento iluminista e na elaboração dos
verbetes políticos da Enciclopédia, obra de vários autores, os chamados
enciclopedistas, que reuniu em torno de 60 mil verbetes distribuídos em 28
volumes, e sintetizou o conhecimento produzido na época nos mais diversos
ramos das investigações cientificas e filosóficas. O enfoque dos verbetes de
Diderot vai de fato ao coração do pensamento político daquele momento. Neles
encontramos temas sobre aristocracia, cidadão, democracia, economia, direito
natural entre outros. Mas sem dúvida, um dos verbetes mais importantes é o
que fala sobre a autoridade política. Nesse verbete, o filósofo retoma a
discussão sobre a natureza da autoridade política a partir do pensador inglês
Thomas Hobbes. Hobbes foi um pensador que, vivendo sob um período de
intensa guerra na Inglaterra do séc. XVII, escreveu uma famosa obra intitulada
Leviatã na qual justifica a autoridade política com base na necessidade da
existência de um poder capaz de impor a ordem social e impedir que os
indivíduos vivessem em guerras permanentes.
No texto sobre autoridade política Diderot retoma o debate iniciado por Hobbes
porém a partir de uma perspectiva baseada no princípio da igualdade entre os
homens. Isso significa que nenhum homem nasce predestinado a ser
governante ou governado. ‘’A liberdade é um presente do céu, e cada indivíduo
de mesma espécie tem o direito a usufruir dela tão logo tenha o uso da razão’’.
Desse modo, ao contrario do que propunha Hobbes, Diderot atribui a
autoridade política a função fundamental de assegurar o exercício da liberdade
humana. Em outras palavras, enquanto a obra de Hobbes justifica a existência
de uma autoridade central que está acima de qualquer outro poder existente na
face da terra, Diderot busca estabelecer os fundamentos da legitimidade da
autoridade política bem como, impor limites ao exercício desta autoridade
identificando dois modos distintos de poder político.
Em seu livro, Diderot desmitifica as idéias absolutistas que tanto justificaram e
legitimaram o poder das reis absolutistas em tal contexto. Segundo Diderot,
não é da ordem natural constitutiva das coisas que exista uma relação de
submissão entre os indivíduos da mesma espécie, exceto aquela que seja
naturalmente provisória entre pai e filho.
“ [ ... ] Se a natureza estabeleceu alguma autoridade, é a do poder
paterno; mas este poder tem seus limites, e, no entanto de natureza, ele
terminaria logo que os filhos tivessem condições se conduzir”. ( Diderot, 2006,
p 37).
Diderot usa a erudição teológica para questionar a idéia de que o soberano
exerce um mandato divino.
“[ .... ] Ele permite, para o bem comum e para a manutenção da
sociedade, que os homens estabeleçam entre si uma ordem de subordinação e
que obedeçam a um deles. Mas quer que isto seja feito por razão e com
medida, e não de maneira cega e sem reserva, a fim de que a criatura não se
atribua impropriamente direitos do criador”. ( Diderot, 2006, p 38).
De acordo com Diderot, embora o governo tenha um caráter hereditário deve
está atrelado a um bem público e não um bem privado.
“[ ... ] Não é o Estado que pertence ao príncipe, é o príncipe que
pertence ao Estado. Mas cabe ao príncipe governar no Estado, porque foi
escolhido para isto e se comprometeu com os povos a administrar seus
negócios, estes, por seu lado, compromenteram-se a obedecê-lo de acordo
com as leis.” ( Diderot, 2006, p 40) .
Para Diderot a idéia de cidade está associada a uma relação entre uma pessoa
física ou pessoa moral que torna-se depositário das forças e das vontades dos
outros.
“[ ... ] A pessoa física, ou o ser moral, como depositário das vontades e
das forças, comandam; as pessoas transferiram suas vontades e suas forças
obedecem. A idéia de cidade supõe, portanto, a relação entre uma pessoa
física ou ser moral público que quer sozinho, e os seres físicos que não tem
mais vontade”. ( Diderot, 2006, p 55).
Diderot defende a tese de que a democracia segue critérios bem específicos
como: ora, o cidadão é soberano, ora é súdito. O autor caracteriza o estado
despótico como um instrumento ideológico e coercitivo dos príncipes.
Para o autor o governo deve promover o bem do povo e as suas ações não
podem ser perniciosas à nação.
Denis Diderot argumenta que nenhum homem vive isolado e sim inserido em
um ambiente onde exista a sua socialização.
REFERÊNCIA: Diderot E D’ Alembert. Verbetes Políticos da Enciclopédia. Tradução: Maria das
Graças de Souza. São Paulo, SP.Editora Unesp, 2006.

A Revolução Francesa

A revolução Francesa, abordada por Soboul em seu texto, parte de premissas
metodológicas oriundas do Marxismo Clássico segundo a qual é a partir da
emergência da classe burguesa, aproveitando-se da falência do Antigo
Regime, e dos movimentos de luta populares, que assume o poder e torna o
Capitalismo hegemônico nas formações econômico sociais, submetendo a
seus interesses toda a produção material. É o processo de transformação
capitalista da sociedade e sua subordinação às exigências do capital. Este
processo engendra, também, a construção de um Estado. de instituições
políticas, adequados aos interesses da burguesia. Ele ocorre em dois
momentos distintos. No primeiro, de longa duração, com mudanças sociais e
econômicas; em outro momento, na curta duração, a partir de mudanças
políticas e institucionais, em que participam movimentos paralelos e
antagônicos: um da burguesia, e outro, mais radical, dos pobres e explorados
da cidade e do campo.
Neste resumo apresentamos a configuração da nova sociedade francesa após
o Antigo Regime, a formação do estado burguês, a questão da nação e dos
direitos dos homens.
A Nova sociedade francesa - A ruína da antiga aristocracia feudal. A primeira
etapa da Revolução, através de decreto-lei, acabou com a distinção entre a
nobreza e o restante da população. Em seguida, os atos legislativos baixados
pela direção revolucionária da burguesia com o apoio dos camponeses foram
os de suprimir todos os antigos direitos feudais como o dízimo das colheitas.
Em 1793, a radicalidade trazida pelos novos atos de lei provocou a queima de
praticamente todos os títulos feudais e a nobreza se viu completamente
destituída de poder econômico. Com a retomada da revolução pela burguesia
em 1795, há um abrandamento dessa situação e uma restituição de terras para
parte da antiga nobreza, justamente aquela já aburguesada e assimilada à
Revolução.
O tempo de longa duração é tempo da corrosão e superação das formas précapitalistas,
subordinando-as ao poder do mercado e do capital. A produção
material é submetida e se transforma em produção de mercadorias, reificando
a força de trabalho. As relações mercantis se generalizam e o dinheiro passa a
ser a medida geral de todas as coisas e valores. Esse longo tempo vai desde o
longínquo surgimento das primeiras formas capitalistas, até as vésperas do
tempo de curta duração, em que são postas as condições objetivas para que
as transformações se tornem dominantes. O período da Revolução Francesa é
o período de curta duração e traduz a luta política da burguesia pelo controle
do Estado. Esta luta se manifesta quando o poder econômico permite aos
capitalistas enfrentarem a velha aristocracia pelo domínio da sociedade.
A classe burguesa tem nas formas políticas e jurídicas ultrapassadas e no
emperramento das relações de produção, que impedem o pleno
desenvolvimento e a ampliação dos negócios da burguesia, sua arma de
mobilização social. É nesse tempo que a luta contra a aristocracia feudal e
latifundiária se manifesta tendo como atores: a burguesia e a classe
camponesa, instrumentalizada pela crise. Este tempo, embora dentro do rápido
período designado de curta duração, deve ser entendido como o período
necessário para a classe burguesa domine o aparelho de Estado, com criação
das instituições políticas que viabilizam o governo dos proprietários, sob
hegemonia burguesa, exercido sobre o conjunto da sociedade. O movimento
da burguesia limita-se à mudança política e jurídica para estabelecer a
igualdade entre os setores proprietários, o fim das restrições feudais à
realização de negócios, a unificação do Estado nacional. Alcançado esses
objetivos, os políticos e ideólogos empreendem um enorme esforço para
regulamentar o jogo político-eleitoral de forma a manter o formalismo jurídico
da consulta popular e limitar a expressão institucional da vontade popular. O
parlamento não foi uma criação das massas revolucionárias, como a Comuna
de Paris, em 1871, ou os sovietes, na revolução russa. O movimento da
burguesia é paralelo ao levante plebeu e camponês, e se beneficia dele. Os
artesãos, pequenos comerciantes, pequenos patrões, os trabalhadores
assalariados das cidades, por um lado, e os camponeses por outro, lutam pelo
fim de todos os privilégios, não apenas os da aristocracia. Exigem a igualdade
entre os homens, a democratização do Estado e da política, e a instauração de
um governo voltado para o bem comum.
Com as terras do clero, a perseguição foi ainda mais implacável. Houve a
disponibilidade da venda dos chamados bens nacionais da aristocracia e do
clero. Os do clero, chamados de primeira origem foram disponibilizados em
novembro de 1789 e todos os bens fundiários da Igreja francesa foram
vendidos sem exceção, decretando o fim do poder eclesiástico no estado
francês. O resultado da revolução para a aristocracia foi o fim de todos os
privilégios feudais o que praticamente causou seu desaparecimento. Aqueles
poucos que se conservaram aristocráticos transformaram suas propriedades
em empresas agrícolas, fundindo-se durante o início do século XIX com a
burguesia emergente, tornando-se, assim, a nova classe dirigente francesa. 2.
Liberdade econômica e classes populares A livre iniciativa (laissez-faire) foi
amplamente estimulada pela burguesia dirigente nas cidades e nos campos o
que trouxe nos dez anos da Revolução uma profunda transformação na
segmentação social de classes da França. Os antigos camponeses donos de
pequenas propriedades e que vendiam sua produção a um senhor, libertos dos
deveres feudais, cresceram e tornaram-se médios proprietários e
empregadores de mão-de-obra rural. A velha servidão foi abolida e os
habitantes do campo, ou tornaram-se pequenos proprietários lavradores, ou
migraram para as cidades, ou, ainda, tornaram-se assalariados daqueles novos
camponeses enriquecidos, alguns deles homens provindos da cidade,
burgueses empreendedores. Nas cidades, da mesma forma, os pequenos
artesões e comerciantes familiares cresceram e montaram fábricas e outros
negócios de pequeno e médio porte empregando um nascente proletariado
urbano. Esse proletariado surgiu, na maioria, do povo marginalizado durante o
antigo regime, boa parte dele vindo dos sans-culotte que se assalariaram
durante a Revolução e que a sustentaram com sua luta revolucionária. Outro
fenômeno característico da Revolução Industrial, mais presente na Inglaterra,
também ocorreu nas grandes cidades francesas. Segundo Souboul, entre os
pequenos e médios produtores, “alguns, obtiveram sucesso e se tornaram
capitalistas industriais, outros permaneceram ligados ao trabalho artesanal nas
oficinas, a maior parte perdendo mercado e indo engrossar as fileiras do
proletariado urbano durante o século XIX.” Segundo o autor, já na virada do
século XVIII para o XIX, havia certa compreensão de parte desses
trabalhadores de que a mecanização traria o fechamento de suas oficinas
reduzindo-os à condição de operários assalariados.
A desagregação das massas camponesas. A passagem de um modelo feudal
de produção do tipo senhor x campesinos (servos / pequenos proprietários /
trabalhadores eventuais) para um regime de produção do tipo assalariado ou
de concessão de terras, desarticulou completamente as antigas relações de
trabalho no campo. O resultado dessa transformação pode ser resumido em
duas situações diferentes. A primeira é a daquelas áreas de grande cultivo
extensivo, onde a mudança ocorreu de forma rápida e a nova burguesia rural
proprietária de terras trouxe a mecanização para a agricultura. O camponês
tornou-se assalariado rural ou da indústria agrícola e fechou-se o ciclo do
capitalismo agrário. A segunda é a daquelas áreas rurais de pequenas
culturas, onde a transformação foi lenta e, desaparecendo a figura do senhor,
surge o antagonismo entre o camponês pequeno proprietário e o trabalhador
sem terra que luta pela defesa do uso comum dos campos e dos bosques.
Esse confronto continuou durante todo o século XIX opondo três segmentos
sociais agrários diferentes: o dos produtores capitalistas, aquele dos pequenos
proprietários e, enfim, o dos camponeses sem terra, agora trabalhadores por
jornada para ambos.
4. Nova e velha burguesia Já nos tempos do Antigo Regime havia na França
uma burguesia perfeitamente integrada ao antigo sistema econômico e social,
dividindo as benesses da situação com a aristocracia rural, apesar de não ter,
na maioria dos casos, os mesmos privilégios nobiliários por ela adquiridos.
Esses burgueses proprietários de fazendas que viviam numa condição de
nobreza com suas rendas fundiárias e os direitos feudais que extraíam dos
camponeses viram esses privilégios desaparecerem assim como os dos
nobres, com os sucessivos decretos revolucionários que extinguiram qualquer
direito adquirido da nobreza, inclusive, em alguns casos, até a perda da
propriedade rural. A alta burguesia dos negócios também sofreu a decadência
com a supressão dos impostos indiretos, com o fechamento da Bolsa de
Valores em 1793, o desaparecimento da Caixa de Finanças e as reduções
sucessivas da taxa de interesses durante o governo jacobino. Nos dez anos da
Revolução houve uma transformação no perfil da burguesia francesa com essa
velha classe dando lugar aos novos burgueses, arrivistas que se enriqueceram
especialmente no período do Diretório entre 1795 e 1799. Muitas companhias
aproveitaram-se da fraqueza do governo do Diretório para depauperar o
Estado. À frente dos negócios dessa nova burguesia estavam as práticas de
especulação financeira e o fornecimento superfaturado de materiais ao
Exército. O dinheiro obtido, à custa do poder público, foi investido em outras
frentes econômicas, de atividades industriais, principalmente o setor têxtil, e na
sociedade com velhos comerciantes e novos industriais dando impulso ao
grande capitalismo francês do século XIX. Assim, a burguesia francesa foi
renovada, incorporando em suas fileiras estes novos ricos que abandonaram a
especulação financeira e investiram seu capital no setor produtivo. Isso ocorreu
também com os setores intermediários e da pequena burguesia, havendo uma
renovação desta classe como que num efeito dominó gerado a partir do
saqueio aos bens do Estado. Numa escala menor, também entre a pequena
burguesia e o povo a especulação financeira aparece como o meio de
promoção social no período do Diretório. Entende-se porque o fim desse
período turbulento de ausência de poder político central numa França que
rapidamente se aburguesava, deu-se com a chegada de Napoleão, o salvador
da pátria, impondo ordem política ao governo fragilizado. No século XIX, no
período napoleônico, feita a pacificação social interna, opera na França a fusão
entre a nova burguesia enriquecida, a aristocracia restante e os camponeses
pequenos proprietários, todos identificando a nova idéia de nação à de
propriedade burguesa. Encerrava-se na esfera social no decorrer do século
XIX o objetivo dos burgueses revolucionários do século passado. Restaria à
massa alijada do poder político e econômico recriar outra ideologia
revolucionária.
O velho estado francês foi transformado durante a Revolução com a idéia
central de soberania nacional e de razão de Estado. Não mais um Estado que
era a própria encarnação de seu soberano, mas sim a emanação soberana de
seu povo. Lograva-se a tentativa de por em prática, durante a revolução, a
idéia de Rousseau, de um estado que seria a vontade geral de seus cidadãos.
Para a regulação disso foi preciso o estabelecimento implícito de um contrato
entre governantes e governados. O estado francês tornou-se um estado
contratualista. Resta saber, agora, durante o século XIX quem foram os
cidadãos ou as classes sociais que puderam participar e fazer parte deste
“contrato”.
Histórico do estado revolucionário 1) Entre 1789 e 1792 (monarquia
constitucional), poder político da burguesia, descentralização, poder nos
municípios, soberania individual restrita aos notáveis e ao crivo censitário
(riqueza). 2) Entre 1792 e 1795 (República jacobina), poder político entre
facções da pequena burguesia e camadas populares. Nova centralização
política, ampliação da cidadania irrestrita, eliminação dos dissidentes, razão de
estado elevada ao máximo (Robespierre antecipa o bolchevismo soviético). Os
dissidentes radicais mais exaltados, os sans-culotte, portanto a camada
economicamente mais baixa da população, mas altamente politizada,
reclamava pela democracia direta, prenunciando as idéias anarquistas
francesas futuras de Saint-Simon e Proudhon. 3) Entre 1795 e 1799 (República
burguesa) restauração do estado liberal burguês e separação da economia do
dirigismo estatal. Nova exclusão censitária do sufrágio, diminuição da
cidadania política. 4) 18 Brumário: golpe de Estado. Implantação do estado
autoritário, ditadura do cônsul Napoleão. Alargamento da base de apoio para
as massas e para a aristocracia. Afirmação do estado burguês e laico. 2.
Separação da Igreja do Estado Durante o período revolucionário propriamente
dito, entre 1789 e 1795, houve uma intensa perseguição ao clero com a
desapropriação de todos os seus bens. Houve também uma separação total do
estado em relação à Igreja e o fim do reconhecimento da religião católica como
religião oficial do Estado.
Já, com a chegada de Napoleão e o Império houve uma restauração religiosa,
porém em bases muito diferentes daquelas do Antigo Regime. Para manter a
estabilidade social, uma vez que havia intensa ligação de grande parte da
população francesa com a religião, Napoleão reconheceu a religião católica
como a religião da maioria da população francesa. Manteve a Igreja firme
debaixo da tutela do estado, mas impediu que o catolicismo se tornasse
religião oficial, deixando assim, para sempre, o estado francês laico. 3. Os
serviços do Estado A Revolução reformou completamente o aparato estatal.
Implantou um sistema de maior racionalidade, típico da burguesia. Houve uma
reforma intensa da taxação pública e da coleta de impostos, com uma mistura
entre a descentralização de algumas operações fiscais para os municípios e a
centralização de outras dentro do estado autoritário napoleônico.
III Unidade nacional e igualdade de direitos 1. A unificação nacional 2.
Igualdade de direitos e realidade social 3. Direitos sociais: assistência e ensino
A idéia de nação e de cidadania francesa teve de ser estendida a toda a
população que, para aceitá-la, teve de se sentir, assim, cidadã. Como cumprir
essa obra? Para isso contribuiu bastante, durante o período revolucionário, o
fim das antigas relações de classe e a instituição de uma escola pública para
todos os franceses. O populismo autoritário de Napoleão Bonaparte, a
implantação do Código Civil e a continuidade do processo educativo como
processo de disciplina da população juntou-se àquela idéia consagrada do
destino francês de levar a liberdade aos outros povos. Assim, a implantação de
um regime disciplinar intenso baseado nas instituições do Estado e que fará de
cada francês um defensor da nação, será o meio de afirmação da unidade
nacional. Escola, exército, hospital, prisão, tornam-se os pilares de um sistema
de educação/repressão que se encerra com a constituição dos limites das
liberdades individuais dentro do estado burguês e permitiu o desenvolvimento
do capitalismo. Um sistema de racionalidade aplicado ao conjunto da
população e que, ao mesmo tempo em que a adestra, a educa e acalma, a
integra à nação, ou, pelo menos, à idéia que se formou de nação, expandindo,
assim, o próprio poder do estado. Como a razão do estado é a sua
sobrevivência e para essa sobrevivência é necessário o aumento de sua
riqueza, estabelece-se uma aliança entre estado e burguesia, que se constitui
na própria idéia de estado moderno. Idéia esta realizada plenamente na França
do século XIX. 4. Aproximação da aristocracia à idéia de nação Napoleão
Bonaparte teve a habilidade de integrar novamente quase toda a população
francesa dentro da idéia de nação e de França grande, de Império francês,
trazendo novamente aos franceses o sentimento de superioridade na Europa.
A reconciliação entre a burguesia emergente vencedora da Revolução e a
aristocracia emigrada que retorna para ocupar sua posição política, se faz com
base na idéia burguesa que permeia o novo estado. Um estado baseado na
propriedade privada. A defesa da propriedade é o meio achado por Napoleão
para permitir a unificação de três classes sociais francesas distintas: a
aristocracia recuperada, a burguesia enriquecida, e os pequenos proprietários
liberais, tanto do campo como da cidade. A massa da população teve como
presente de grego o acesso aos bens públicos e aos serviços de assistência
social e de educação, sendo obrigada a servir à pátria. A instituição do serviço
militar obrigatório a todos os homens maiores de vinte anos de idade trouxe um
sentimento de integração a boa parte das massas populares, que não
compreenderam esse procedimento como uma sentença de morte dada aos
seus filhos na guerra, mas sim como uma incorporação política da cidadania. A
derrota de Napoleão na Rússia e depois seu fracasso ante os ingleses em
Waterloo redimensionaram essa idéia de França grande e de cidadania entre a
população, fazendo surgir os primeiros conflitos populares do século XIX. A
herança sans-culotte, da Conjuração dos Iguais de Babeuf e de Buonarrotti, os
pequenos proprietários e artesãos livres que não se tornaram proletários, serão
a base das primeiras idéias socialistas revolucionários de 1848, fundadas no
anarquismo de Proudhon, o primeiro francês a produzir uma crítica
contundente à propriedade privada, e no socialismo de Louis Blanc.

As revoluções burguesas

Em seu livro, Modesto Florenzano traz à tona os instrumentos institucionais e
intelectuais que fomentaram a eclosão das revoluções burguesas ocorridas
entre os séculos XVII e XVIII.
O autor analisa as sucessivas transformações sociais e econômicas que
impulsionaram o desenvolvimento da Inglaterra entre os XV e XVI.
“[ ... ] Com efeito, a Inglaterra passou a ter, neste período, a maior
indústria têxtil da Europa e a produzir mais de quatro quintos de todo o carvão
do continente.Sua indústria naval e comercial da época. A indústria têxtil, para
fugir às restrições impostas pelas corporações urbanas, aferradas a seus
privilégios e tradições, havia se espalhado pelas aldeias dando início ao
chamado sistema de produção doméstica ( puttin-out ).” ( Florenzano, 1981, p
68/69 )
Florenzano, argumenta que as transformações econômicas atingiram
profundamente a estrutural social da Europa.
“ Naturalmente, todo este processo de desenvolvimento econômico
repercutiu profundamente na estrutura social do país, alterando- a de cima para
baixo. As rápidas mudanças econômicas, de um lado, e a inflação, de outro (
no século XVI não apenas a Inglaterra mas toda a Europa sofreu a famosa
“revolução dos preços”, provocada em grande parte pelo afluxo maciço de
prata e ouro americanos), provocaram uma grande redistribuição de renda de
uma classe à outra e um intenso processo de mobilidade social”. ( Florenzano,
1981, p 70 )
Segundo Florenzano, a nobreza inglesa apresentava traços bem distintos das
outras nobrezas européias.
“[ ... ] Duas circunstâncias explicam este comportamento. Por uma parte,
a precoce desmilitarização da nobreza inglesa com relação à do continente.
Como se sabe, na ordem feudal o lugar que a nobreza ocupava na sociedade
definia-se pelas funções militares e estas eram concebidas em oposição às
tentações do dinheiro. Na Inglaterram em 1500, todo par portava armas; no
reinado de Elisabeth ( 1553- 1603), somente metade dos membros da
aristocracia tinham uma experiência de combate; nas véspera da guerra civil,
muito poucos nobres tinham algum passado militar.” ( Florenzano, 1981, p 72 )
Modesto Florenzano salienta que a dinastia Stuart herdou sérios entraves ao
estabelecimento do regime absolutista, uma vez que não consolidou três
elementos básicos: exército permanente, a autonomia financeira e a burocracia
e aponta as idéias que começam a ganhar corpo, especialmente, na Inglaterra.
Dentre elas, o puritanismo que tem como premissa a moralização das ações, o
Direito Comum que tinha um viés liberal que se adequava as demandas
burguesas e capitalistas e a ideologia que atribuía ao “país” um caráter virtuoso
e a “Corte” uma postura autoritária e pervertida.
Para o autor tanto a ideologia da revolução francesa quanto a ideologia da
revolução inglesa tiveram distinções bem acentuadas.
“ De sorte que, enquanto a ideologia da revolução francesa dirigia-se
para o futuro, a ideologia inglesa voltava-se para o passado, idealizado como
uma verdadeira idade de ouro”. ( Florenzano, 1981, p 89)
Revela as disputas que suscitaram a fragmentação do Parlamento Longo na
época em questão.
“Com a convocação do Parlamento Longo em novembro de 1640 (
assim chamado porque durou ininterruptamente até 1653, quando foi dissolvido
por Cromwell), a iniciativa política passava às mãos da oposição parlamentar,
centrada na Câmara dos Comuns. Contando com uma grande maioria de
deputados, com uma liderança experiente ( Pym Hampden e outros) e com
uma unidade de pontos de vista contra a Coroa, oposição estava decidida a
conquistar ( no terreno constitucional) para o Parlamento a soberania política”. (
Florenzano, 1981, p 96 )
Modesto Florenzano evidencia os fatos que culminaram na cisão entre os
ingleses naquela época.
“[ ... ] Praticamente todos os anglicanos e católicos ficaram do lado da
monarquia e todos os puritanos moderados ( prebisterianos) e radicais ( as
seitas ) do lado do Parlamento.Mas do ponto de vista social a divisão
apresenta-se obscura e complicada. Isso porque os integrantes de um e de
outro bando pertenciam basicamente às mesmas classes sociais, a gentry, à
alta nobreza ( aristocracia) e á burguesia e todas as três eram classes
proprietárias economicamente dominante”. ( Florenzano,1981, p 99 )
As revoluções Burguesas são momentos significativos na história do
capitalismo, na medida em que serão elas que contribuirão para abrir caminho
para a superação dos resquícios feudais e, portanto, para tornar possível a
consolidação do modo de produção capitalista. Tais revoluções ocorreram em
vários países europeus, no entanto, neste capítulo, vai-se dar ênfase especial a
duas delas: a Revolução Inglesa, ocorrida no século XVII, e a Revolução
Francesa, no final do século XVIII.
Para se compreender a Revolução que ocorreu na Inglaterra, é necessário
compreender o quadro social lá existente, além das questões políticas e
econômicas derivadas de uma sociedade onde as forças capitalistas
avançavam com rapidez, mas esbarravam numa estrutura ainda
eminentemente feudal. Nesse sentido, devido à crise que ocorreu no século
XVII, na Europa, e em razão do avanço dessas forças capitalistas, a Inglaterra
pôde conhecer uma revolução, que boa parte dos autores considera burguesa,
pelos efeitos sobre a estrutura econômica inglesa.
As razões que propiciaram a eclosão do movimento revolucionário,
sumariamente são:
a) o Estado absolutista inglês (desde 1603 o governo estava nas mãos da
dinastia Stuart) era, apesar disso, tremendamente frágil: não possuía exército
permanente nem uma burocracia organizada, além de possuir rendimentos
financeiros pouco expressivos; as tentativas dos reis Jaime I e Carlos I em
aumentarem os impostos e terem um exército à sua disposição, eram vistas
com desconfiança pelo Parlamento;
b) as condições econômicas da Inglaterra, devido ao período mercantilista. Sob
o governo da dinastia Tudor (1485-1603), a Inglaterra tornou-se uma grande
potência marítima. Foi também neste período que o sistema de "putting-out" ou
indústria doméstica surgiu, determinando mudanças na estrutura da produção;
c) a Reforma religiosa na Inglaterra determinou a perda das terras da Igreja,
que foram tomadas pelo Estado e vendidas para a burguesia e para a nova
nobreza (gentry) que estavam preocupadas com o cercamento das terras para
a criação de ovelhas, cuja lã atendia às manufaturas. Assim, passou a haver
uma estreita associação de interesses entre a burguesia mercantil e a gentry;
d) as transformações na estrutura social, derivadas das transformações
econômicas citadas acima. A diferenciação social entre cidade e campo era
bastante nítida. No campo estavam os Pares (aristocracia, ou alta nobreza,
essencialmente feudal); a gentry (nobreza de status); os yeomen (pequenos e
médios proprietários rurais); os arrendatários e os jornaleiros. Havia ainda, nas
cidades, os elementos ligados 1as corporações de ofícios.
A Revolução Inglesa tem início no governo de Carlos I (1625-1640), devido às
tentativas desse rei em aumentar os impostos. Em 1637 ele lançou o "ship
money", e a população se rebelou. Paralelamente, a monarquia procurava
restringir os cercamentos, afastar a gentry da Corte e reforçar os privilégios dos
Pares. Os protestos do Parlamento levaram Carlos I a dissolvê-lo, convocando
um outro, que ficou conhecido como Short Parliement (Parlamento Curto), logo
dissolvido por se recusar a permitir novos impostos. O parlamento convocado
logo a seguir, conhecido como Long Parliament (Parlamento Longo), toma
atitudes drásticas: depõe o primeiro-ministro, revoga os impostos que o rei
havia decretado e estabelece que apenas o Parlamento poderia se
autodissolver; o rei não poderia mais tomar tal atitude.
Em 1640, para vencer os irlandeses, o rei organiza um exército próprio, que
será levado a lutar contra o Parlamento. Tem início a Revolução, que passa
pelas seguintes etapas:
a) 1640-42 - a Grande Rebelião. O Longo Parlamento toma atitudes (como as
citadas acima) francamente hostis ao monarca.
b) 1642-48 - a Guerra Civil. Do lado do rei alinham-se anglicanos e católicos,
portanto, essencialmente os Pares e alguns setores da gentry, principalmente
os das regiões Norte e Oeste da Inglaterra; aolado do Parlamento encontramos
presbiterianos e seitas radicais; os yeomen, a burguesia mercantil e setores
dda gentry, especialmente os do Sul e do Leste da Inglaterra. A vitória do
Parlamento só se tornou possível pela organização do New Model Army (Novo
exército modelo), de Cromwell. Foi graças a esse exército, onde a promoção
ao oficialato se fazia pelo mérito, que o Parlamento conseguiu vencer as tropas
reais. Após a prisão do rei, surgiram conflitos entre os vencedores, pois alguns
defendiam a condenação à morte do rei (radicais), enquanto os moderados
insistiam na continuação da monarquia. Os radicais conseguiram se impor e
Carlos I foi condenado.
c) 1648-58 - a República de Cromwell. Oliver Cromwell esmagou violentamente
os movimentos radicais dentro do exército (niveladores e cavadores, cujas
ideias serão examinadas no texto de aprofundamento); decretou os Atos de
Navegação que consolidaram a marinha inglesa e permitiram, em breve, à
Inglaterra dominar os mercados mundiais; seu governo era uma república
ditatorial, denominada Protetorado.
d) 1658-60 - o fim da da República.Após a morte de Cromwell, seu filho
Richard foi deposto pelo exército, num golpe tramado pelo Parlamento. Optouse
pela restauração da dinastia Stuart.
e) 1660-88 - a restauração Stuart.O Parlamento é depurado dos elementos
radicais. Tenta-se a monarquia limitada, mas quando Jaime II tenta restaurar o
absolutismo e o catolicismo a situação chega ao limite.
f) 1688-89 - a Revolução Gloriosa. Esta "revolução" nada mais foi do que um
golpe do Parlamento contra Jaime II. Colocando no poder Guilherme de
Orange, um genro de Jaime II, a gentry e a burguesia, na realidade, estão
assumindo o poder, uma vez que pelo "Bill of Rights" (Declaração de Direitos),
de 1689, fica definitivamente limitado o poder monárquico na Inglaterra,
caminhando-se, portanto, para a instalação do Parlamentarismo.
Conclusão: Por esta breve síntese, pode-se perceber por que a Revolução
Inglesa é considerada uma revolução burguesa. Foi ela, na realidade, que abriu
as condições para a instauração do modo de produção capitalista, via
Revolução Industrial, na medida em que estabeleceu a plena prosperidade
privada sobre a terra, permitiu à marinha inglesa controle sobre os mercados
mundiais e, ao intensificar os cercamentos, proletarizou uma grande massa de
pessoas.
REFERÊNCIA: Florenzano,Modesto. As revoluções burguesas.São Paulo:
Editora Brasiliense,1981 .

A CRISE GERAL DA ECONOMIA EUROPÉIA NO SÉCULO XVII

O autor apresenta em seu texto os motivos que levaram a economia européia
passar por uma crise geral no século XVII. Essa crise acabou dando início a
uma grande mudança em toda estrutura econômica e política da Europa,
fundamentada até este período nos moldes de produção feudal que aos
poucos começava a dar sinais claros de uma transição para o capitalismo, mas
que ainda apresentava alguma resistência.
Durante a leitura do texto foi observado que apesar de certa regressão na
economia européia esse não foi o motivo fundamental para o inicio da crise e
sim um dos fatores que somados a outros contribuíram para a deflagração da
mesma além de uma necessidade de acabar de uma vez por todas com os
entraves existente que de uma forma muito acentuada ainda impediam o
desenvolvimento do modo de produção capitalista.
O comércio sofreu um declínio muito grande devido a revolução sofrida pelas
duas principais zonas comerciais internacional que são o Mediterrâneo e o
Báltico. Em conseqüência a queda das vendas e a diminuição dos lucros que
favoreceram muito para a deflagração da crise, o modo de trabalho assalariado
onde as pessoas satisfaziam suas necessidades através de sua própria
produção davam um freio as idéias burguesas capitalistas que visavam altos
lucros.
CRISE E REVOLUÇÃO, PROBLEMAS CONJUNTURAIS NA SOCIEDADE
INGLESA
A crise foi uma crise no aumento da superação das praticas econômicas
feudais, onde o aumento das forças produtivas leva a desestruturação do modo
de produção feudal, dando passagem ao capitalismo, porém um capitalismo
mercantil que vai ser a base para a implantação do capitalismo industrial no
século XVIII.
O autor em seu trabalho questiona, porque a Revolução Industrial não
encontrou terreno para se desenvolver no século XVI ? Entende-se que é
justamente por ser um período de transição do feudalismo para o capitalismo,
um momento em que a Expansão Marítima, aliada as medidas mercantilista,
vão ser importante para o acumulo de metais, e é nesse acumulo de metais no
século XVI, , que dá sustentação, fazendo nascer dentro do mundo feudal com
sua economia de subsistência o capitalismo, que dando seus primeiros passos
já se mostra desarticulador do sistema feudal.
Sendo assim o autor argumenta que para o capitalismo se desenvolver, a
rigidez do sistema feudal terá que ser quebrada, entra muitos fatores que
contribuíram para a crise podem ser analisados problemas como a formação
das corporações de oficio, entravando a competição entre produtores, e
sabemos que o capitalismo é estimulado pela competição. Também os
mercados locais autárquicos e com uma mão de obra não assalariada,
enquanto o capitalismo incentiva e somente possibilita ao proletário vender
mão de obra, porem, um fator importante era que o sistema feudal produzia
para a subsistência, e para o sucesso do capitalismo, era preciso estabelecerse
em sua base, a produção em massa.
Então conforme o autor só haverá uma saída para a crise quando, ou só houve
uma saída para a crise quando o capitalismo implantar suas bases próprias
(mão de obra assalariada, produção em massa e a intensificação de um
comercio externo), pois a crise se deu por esse sistema ter nascido dentro de
estrutura econômica e política feudal. Pois a Revolução de 1640 na Inglaterra
foi uma via de mão dupla, originou-se na Crise do Século XVII, e foi a ascensão
para o capitalismo.
É claro que esse discurso revolucionário, dentro de uma perspectiva social
estática, com levas de famintos e doentes, encontrou terreno fértil para suas
idéias. Discurso esse que se sabe em ambos os casos partiu de uma burguesia
ambiciosa por conquistar direitos políticos e econômicos pela queda do
absolutismo.
Tentando sintetizar o que o autor quer mostrar, pode-se compreender que o
panorama social, entenda-se povo, era caótico havia falta de alimentos como o
pão que era à base da alimentação os preços era altíssimo, as expulsões dos
campos pelos cercamentos fizeram as cidades aumentarem, e com a pressão
demográfica pessoas se acomodavam em casas de um cômodo só, formando
um ambiente propicio para doenças. Nesse contexto, muitos caiam em
embriagues, e às vezes até para matar a sede, pois as águas dos rios já eram
poluídas pelos resíduos das fabricas. Também a bebida era uma maneira de
esquecer um pouco a miséria, e até se arranjava algum dinheiro com as
garrafas vazias, sem falar nos corpos mal vestidos, pois muitos apenas
portavam uma muda de roupa.
Outro fator dessa realidade era a mendicância. Por todos os lados havia
mendigos, a ponto de se criarem leis para a mendicância. Cada paróquia
cuidava de seus mendigos, esses não podiam sair de seus locais de origem, e
até mesmo se proibia de mendigarem com repressões e detenções,
amputações e enforcamentos.
O que importa aqui e destacar que dentro desse contexto de miséria o
capitalismo encontrava seus braços para o trabalho, uma reserva de mão de
obra. Mas também uma massa de manobra importantíssima que devido a sua
realidade social, estava aberta ao discurso burguês de dias melhores.
Percebemos assim os sujeitos, os receptores, as condições materiais e
espirituais dessas sociedades, Inglesa que é o nosso foco,mas poderia servir
para à francesa , e como esses fatores foram importantes para a possibilidade
de se fazer "as Revoluções", ou seja não se faz revolução sem conteúdo
social.
Se tratando da situação da Inglaterra para compreendermos seu
desenvolvimento social à época da Revolução Inglesa, temos que lançar um
olhar para os conflitos religiosos da época. A idéia protestante diferentemente
da católica, ela é mais pratica atende aos interesses mais econômicos, se,
contudo desligar-se do espiritual. Não se pode dizer que os puritanos são
menos crentes que os católicos por suas atitudes mais praticas, é pelo
contrario, a questão da predestinação para aquela mentalidade era coisa seria,
eles eram convictos de que os homens são predestinados e que suas medidas
econômicas são para glorificar a obra de Deus. Pois nos temos que procurar
ver essa idéia a partir da visão de mundo da época, a partir da visão dos
puritanos daquele contexto, para não atribuirmos valores que são nossos para
aquela época.
Pois se assim não fosse, como explicar o fanatismo religioso dos puritanos, e
uma vida de privações. Como foi possível Cromwell recrutar e arregimentar seu
"exercito modelo" dentro dessa perspectiva se essas pessoas não estivessem
convictas de sua crença daquilo que para eles eram desígnios de Deus.
Agora o protestantismo, por suas pratica colaborou para as nações que o
adotaram, lançar-se à frente dos países católicos, que viram sua economia
travar na ética católica. Um exemplo disso é a Inglaterra.
Anteriormente aos cercamentos, os servos levavam uma vida mais amena em
relação à sua expulsão da terra. Pois tinha uma propriedade que passava para
seus filhos, tinha habitação e alimento, e a proteção do senhor.
Porém na Inglaterra o rei sempre tratou com outros senhores como soberano,
diferente da França onde o rei era suserano. Então para atender os interesses
da burguesia o rei apóia os cercamentos e garante o apoio contra as ultimas
casas feudais. Assim a criação de ovelhas passou a ser um atrativo para os
ingleses, e com a crescente industria têxtil. Era preferível produzir lã e expulsar
os camponeses, que por suas vez vão engrossar as fileiras de trabalhadores
assalariados das cidades onde estão se desenvolvendo as indústrias. Thomas
Mours, na Utopia, vai dizer que a Inglaterra é um estranho país onde ovelhas
devoram homens.
A base da economia vai ser a industria têxtil, as terras ocupadas com ovelhas,
há uma diminuição na produção de alimentos tornando-se mais graves as
condições de vida da população.
Outro setor que vai ser prejudicado com essas medidas era a pequena
burguesia que não encontrava espaço para se desenvolver, pela conseqüência
dos monopólios concedidos à alta burguesia que apoiava o rei. Com os
cercamentos o rei acabava perdendo seus súditos, e então houve uma
tentativa de controlar o processo de cercamentos, mas pouco mudou, levando
o rei a cobrar mais impostos sobrecarregando outros setores contribuindo para
minar as bases da monarquia.
Já havendo liberdade econômica, no sentido de que os burgueses, e suas
idéias capitalistas encontravam terreno, o importante agora no momento da
Revolução de 1640, era buscar mais flexibilidade nas relações políticas,
quebrando monopólios e privilégios. Por isso que a Revolução é uma
encruzilhada para a ascensão definitiva do capitalismo, era necessário destruir
os resquícios feudais que entravavam a economia, e estes estavam nas mãos
do rei, não se queria num primeiro momento cortar a cabeça do rei, e nem
destituí-lo do trono, mas perante a inflexibilidade real não se teve outra saída.
Pode-se dizer que as vésperas da Revolução, a economia estava entravada no
absolutismo político, a burguesia que fez a revolução apoiada pelo povo, tinha
interesses próprios, configurando-se após a guerra civil como uma Revolução
burguesa, que esfria após seus objetivos políticos e econômicos serem
alcançados, e ficando o povo diante de um processo que para ele pouco
mudou sua situação econômica, de mão de obra para a industria têxtil e umas
agriculturas capitalistas, que seguiram cheias de injustiças. Porém
economicamente os dez anos de república colocaram a Inglaterra em posição
de potencia no mundo, e seus resultados vão se concretizar com a Revolução
Industrial.
Após a leitura, a idéia que tive foi que a crise da economia européia no século
XVII foi uma ferramenta usada pela burguesia que pretendia de uma vez por
todas introduzir os modos de produção capitalista para obtenção de altos
lucros, idéia essa que ainda mesmo com a decadência do modo de produção
feudal ainda sofria resistência no meio da população e no meio político. Nesse
momento a necessidade de uma crise geral fica eminente para a implantação
definitiva das novas idéias que surgiram naturalmente depois da crise e
serviriam como impulso para um novo sistema político e econômico.
REFERÊNCIA: HOBSBAWM, Eric J. A crise geral da economia européia no
século XVII.
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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O discurso do Método

O discurso do método, é um livro publicado  por René Descartes(1596-16501), em  1637, século XVII, e portanto nascido em meio ao Renascimento, movimento politico, cultural que buscava, trazer uma nova visão acerca do mundo, uma visão menos teocêntrica(centro em Deus), e mais centrada nos estudos científicos, naquilo que conhecemos por Razão.
O discurso do método de René Descartes, é portanto um livro que representa pensamento dos intelectuais da época, extremamente voltados aos estudos de todas as ciências, buscando sempre interpretar as coisas á luza da Razão.
O pensamento dessa época, e principalmente o pensamento refletido na obra descartiana, pode ser resumida a partir da máxima “Penso, logo existo”, para este a razão deveria ser usada por todos, deveria estar em cada área da vida humana, mas para que alcançasse o seu verdadeiro objetivo que é de buscar a verdade, esta sendo usada por seres imperfeitos, como é o ser humano, precisaria estar submetida a normas, para que seu uso fosse realmente efetivo.
Entretanto, Descartes não exibe essas ‘’normas’’ de maneira impositiva, ao contrário, o estilo de escrita de Descartes, passa mais como uma biografia, uma narrativa de como este se proponha a usar a razão, inclusive para assuntos religiosos. Descartes acreditava que a única verdade poderia vir de Deus, pois ele seria perfeito, já do ser humano não poderia partir nenhum pensamento perfeito, devido a sua imperfeição, o incentivo ao livre pensamento para assuntos religiosos, causaria a Descartes, a inclusão de algumas obras de Descartes no INDEX, a lista de livros proibidos pela  Igreja Católica.
Acima de tudo, o discurso do método, traz a imagem de uma época, de grandes mudanças, de uma Europa recém-saída da Idade Média, do feudalismo, de toda a estrutura mantida debaixo dos ideais da igreja.

Utopia

Henrique VIII, Inglaterra,a Europa passava por diversas transformações, novos atores políticos, a França tomando as rédeas, em alguns espaços. Thomas Moore, primeiro ministro da Inglaterra, seria contemporâneo a diversos destes episódios, entre eles o processo da reforma protestante que já estava em curso, e do qual o advogado irá tornar-se grande critico, escrevendo textos contra Lutero e contra o luteranismo, sendo um dos grandes defensores da ortodoxia religiosa e perseguidor de hereges.
Vindo de um casamento com Catarina, da Espanha, mas que não dera herdeiros masculinos, Henrique VIII, desejava possuir o divorcio para casar com Ana Bolena. Considerado um humanista, e fervoroso católico, Thomas Moore, será um dos que acompanhará o processo desde o inicio, colocando-se contra a decisão do rei. Sendo assim, Thomas Morus, ardoroso defensor do Direito Canônico, irá pedir a sua demissão do cargo de Chanceler , por não compactuar com a atitude do Rei.
Henrique VIII, rompe com a Igreja Católica, por esta não aceitar o seu pedido de anulação, onde torna-se o chefe da Igreja na Inglaterra, criando uma igreja anglicana, ou inglesa.
Henrique VIII, solicita aos súditos q reconheçam o filho deste com Ana Bolena, como legitimo, decisão a qual Thomas Morus, rejeita, sendo assim preso, na Torre de Londres, onde anos depois é julgado e decapitado, sendo canonizado, períodos depois.
Entre esses acontecimento, Thomas Morus, que era um homem de fortes convicções católicas, escreve a Utopia, talvez uma visão de como o mesmo desejava que fosse o seu país,a Inglaterra.
A Utopia, seria uma Ilha, onde tudo seria perfeito, Thomas Morus, descreve o seu encontro com um velho estrangeiro, e com Raphael Moren, um viajante que teria sido contemporâneo de Américo Vespucio. Utopia seria uma ilha quase comunista, não haveria propriedade privada, todos iriam trabalhar ,cerca de 6 horas por dia, três pela manhã, três pela tarde, todos usariam as mesmas roupas, não dando espaço para que um ou outro fosse considerado melhor, por suas roupas, ou por suas joias.
Utopia, é uma visão idealista da sociedade, mas também seria um ataque feroz a sociedade inglesa, e provavelmente ao rei Henrique VIII.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Passagens da antigüidade ao feudalismo

Passagens da antigüidade ao feudalismo é uma obra de caráter marcadamente marxista. Perry Anderson não pretende neste livro cumprir a função de um historiador no sentido clássico do termo. O autor enfatiza que não trabalhou com fontes e sim com pesquisas realizadas por outros historiadores, realizando uma síntese do que havia sido escrito sobre a antigüidade e o feudalismo para chegar a sua própria conclusão.

A obra se divide em duas partes, a primeira parte abordando a antigüidade clássica e o chamado período de transição, pretende retratar o modo de produção escravo e o mundo grego e romano, bem como as invasões bárbaras e suas conseqüências para o sistema até então existente na Idade Antiga. A segunda parte procura dar conta da retratação do sistema feudal em oposição ao sistema vigente na Europa Oriental, fornecendo a chave para o entendimento do desenvolvimento desigual do feudalismo no Ocidente e no Oriente europeu.

Cabe lembrar que, em seu conjunto, este livro chegou a ser considerado como uma introdução ao entendimento da moderna sociedade capitalista, daí, naturalmente, sua grande importância em nossos dias.

Esse trabalho nos dá uma visão marxista de pontos cruciais sobre a vida econômica da Europa e do Oriente próximo. Não chega a aprofundar um único ponto, mas lança a tese de que o modo de produção escravo foi determinante no desenvolvimento social e econômico das sociedades antigas e o colapso no Ocidente esteve relacionado à falência deste tipo de método produtivo.

Portanto podemos concluir que Perry Anderson conseguiu mostrar-nos uma visão sobre uma época em que a economia e a política se entrelaçavam e ditavam as regras gerais da vida social para a época e quanto o trabalho escravo era importante e usado principalmente na agricultura, nos mostra também a precária situação dos mesmos perante a sociedade antiga.

As origens do capitalismo.

O autor inicia lembrando que as diferenças culturais, sociais e econômicas entre o leste e o ocidente europeu, presentes já na historiografia do século XIX, remontam a origens muito antigas. O resgate destas origens passa necessariamente pelo estudo da antigüidade e do modo de produção então vigente.

Tentando entender como o sistema escravista, que sustentou o Império Romano, pode se desintegrar, propõe um recuo até os primórdios da civilização no mundo clássico. Todo esplendor do mundo greco-romano, suas cidades, o desenvolvimento da ciência, da manufatura e do comercio, ao contrário do que se poderia imaginar, estava basicamente sustentado por uma economia agrária. Sendo assim, as cidades nada mais eram que conglomerados de proprietários de terra e não de artífices, mercadores ou negociantes.

No mundo antigo, realmente as manufaturas tinham uma série de limitações, uma vez que baseadas em técnicas simples, possuindo uma demanda pequena para os produtos, estando ao mesmo tempo dispersas por um grande território. Isto sem contar a dificuldade de transporte que obrigava os produtores a se fixarem próximos ao seu público consumidor.

Já o comercio, por sua vez, estava confinado, também devido à dificuldade de transporte, a faixa litorânea do mar mediterrâneo, era, portanto, igualmente, restrito. Dentro deste contexto, o modo de produção escravista foi uma invenção que possibilitou o afloramento da cultura greco-romana.

Trabalho escravo e capitalismo.

O trabalho escravo no campo permitiu que os proprietários de terra pudessem se dedicar a outras atividades, estas sim urbanas. O sistema escravista, ao transformar a força de trabalho em mero instrumento de trabalho, representou o máximo da degradação humana, tal como ocorreria também, bem mais tarde, no Brasil Colônia.

No mundo antigo, o escravo era considerado como instrumento vocal, ou seja, instrumento de trabalho capaz de falar, estando apenas um grau acima do gado, este último chamado de instrumento semi-vocal. O escravo era apenas mais um item utilizado na produção, embora contraditoriamente fosse o trabalho de seu esforço que realmente sustentava todas as realizações do mundo greco-latino.

Assim, a escravização por dividas e através da guerra, forjou um sistema no qual o trabalho escravo criou excedentes que sustentaram a riqueza e o conforto da classe urbana da antigüidade clássica. Ao mesmo tempo constituiu o elo que unia a cidade ao campo. Entretanto, o preço a ser pago por este esquema brutal foi alto, as relações escravistas de trabalho traziam grandes limitações.

Problemas inerentes ao escravismo.

O trabalho escravo da Antiguidade clássica, portanto incorporava dois atributos contraditórios em cuja unidade está o segredo da paradoxal precocidade urbana do mundo grego-romano. Por um lado, a escravidão representava a mais radical degradação rural imaginável do trabalho – a conversão de seres humanos em meios inertes de produção, por sua privação de todo direito social e sua legal assimilação às bestas de carga: na teoria romana, o escravo da agricultura era designado como sendo um instrumentum vocale, um grau acima do gado, que consistia um instrumentum semi vocale, e dois acima do implemento, que era um instrumentum mutum. Por outro lado, a escravidão era simultaneamente a mais drástica comercialização urbana concebível do trabalho: a total redução da individualidade do trabalhador a um objeto de compra e venda, nos mercados metropolitanos de comércio de mercadorias. (pg. 24)

Entre os Gregos

Com o advento dos chamados tiranos (650-510 a.C.), homens que representavam os proprietários de terra mais novos, o domínio da aristocracia foi rompido em favor dos pequenos proprietários agrícolas. Isto só foi possível graças a uma significativa mudança na organização militar das cidades, representada pelo surgimento dos hoplitas.


Os tiranos gregos reestruturaram o exército a fim de que este pudesse lhes garantir apoio contra a grande aristocracia rural. Cada cidadão passou a ter o dever de servir como militar, devendo providenciar e custear seu próprio equipamento, o que assegurou a formação de uma classe média com capacidade de exercer pressão sob o governo.

Assim, nasceu a democracia na Cidade-Estado grega, onde cada cidadão passou a possuir direitos políticos. Atenas rapidamente se tornou o modelo de Cidade-Estado democrática, não obstante, as monarquias hereditárias sobreviveram, tendo em Esparta uma líder natural. Desta forma, estas duas tendências, incompatíveis, terminaram entrando em um conflito cada vez mais intenso que resultou na Guerra do Peloponeso, que por sua vez enfraqueceu o poder tanto das Cidades-estados democráticas como monárquicas.

Dentro deste contexto, uma monarquia tribal do interior montanhoso da Grécia terminou por dar origem ao Império Macedônio. Reunidos ao redor de um Rei hereditário, formou-se uma nobreza tribal com laços de sangue com o rei, compondo um circulo de companheiros reais que fornecia seus conselheiros e governadores, o que garantiu a lealdade ao Rei, e que por sua vez permitiu a formação de um poder centralizado.

Este fator, associado a inovações militares, tal como a substituição dos hoplitas, que necessitavam de equipamentos caros e pesados, por uma falange, onde tudo que era necessário para fazer parte do grupo era possuir uma lança longa, bem como o uso da cavalaria, garantiram ao Império Macedônio dos Felipes inúmeras vitorias.

O ápice foi alcançado sob o reinado de Alexandre, o Grande. O Império Macedônio, também chamado de mundo helênico, mais do que um fenômeno militar, representou uma integração cultural e política do mundo antigo, onde a cultura se tornou eclética.

Não obstante, o Império não resistiu à morte de Alexandre, as lutas internas entre seus generais acabam fragmentando o Império. Primeiro ele foi dividido em quatro regiões: Mesopotâmia, Egito, Ásia Menor e Grécia. Depois se desintegrou quase completamente.

O mundo antigo só seria unificado novamente pelo Império Romano.

A queda do Império Romano no Ocidente foi determinada basicamente pela dinâmica do modo de produção escravo e suas contradições, uma vez detida a expansão imperial. A razão essencial por que foi o Império Ocidental que desmoronou no século V , e não o Oriental, é que foi ali que a agricultura escrava extensiva encontrou seu hábitat nativo, com as conquistas romanas da Itália, da Espanha e da Gália. Nestes territórios não havia civilização anterior madura para resistir à nova instituição latina do latifúndio escravo, ou modifica-la. Assim foi sempre nas províncias ocidentais que a lógica desumana do modo de produção atingiu sua mais completa e mais sinistra expressão, definitivamente enfraquecendo e fazendo ruir todo o edifício imperial. No Mediterrâneo oriental, por outro lado, a ocupação romana nunca foi superposta a uma semelhante tabula rasa. Ao contrário, encontrou ali um meio ambiente costeiro e marítimo que já havia sido densamente povoado com cidade comerciais pela grande onda de expansão grega no período helênico. Fora esta colonização grega anterior que havia estabelecido a ecologia social básica do Oriente, do mesmo modo a posterior colonização romana estabeleceria a do Ocidente. As duas faces críticas deste modelo helênico, como vimos, eram a relativa densidade das cidades e das dimensões relativamente modestas da propriedade rural. A civilização grega havia desenvolvido a escravidão agrícola, mas não a sua organização extensiva num sistema de latifúndios; seu crescimento urbano e comercial fora mais espontâneo e policêntrico que o de Roma. (pg. 256-257)

Foi neste ambiente conturbado, de defesas desmanteladas e massas rurais desesperadas, que os bárbaros germânicos cruzaram o rio Reno no último dia de 406, marcando o inicio das invasões bárbaras. Mas afinal quem eram estes bárbaros?

Entre os bárbaros

No período do apogeu grego, para estes, os bárbaros eram todos os povos não helenizados. Em contrapartida, para os romanos, todos os povos instalados fora das fronteiras do Império no ocidente eram considerados como bárbaros.

Os povos ditos bárbaros viviam em meio a um modo de produção comunal primitivo, onde a propriedade da terra era desconhecida, e ano a ano os líderes de cada tribo faziam a redistribuição da terra para evitar que uns tivessem mais privilégios que outros.

A riqueza era por isto determinada pela posse de rebanhos e não da terra. Além disto, inexistia entre estes povos chefes políticos em tempo de paz, que eram eleitos em tempo de guerra. A própria estrutura de muitos clãs era ainda matriarcal.

Não obstante, esta rudimentar estrutura social foi rapidamente modificada com a chegada dos romanos ao Reno no século I d.C., o contato com os legionários do Império Romano produziu uma crescente estratificação interna das tribos germânicas.

Para comprar bens dos romanos, os líderes tribais passaram a vender gado e fazer incursões sobre tribos visando capturar escravos para exportar aos mercados romanos.

Logo, a redistribuição de terra, entre os germânicos, tornou-se cada vez menos freqüente até extinguir-se completamente, contribuindo para a formação de uma aristocracia hereditária, com fortuna acumulada, que passou a compor um conselho permanente com poder estratégico na tribo.

Assim, tanto econômica como politicamente, por meio de trocas comerciais e da intervenção diplomática, a pressão romana acelerou a diferenciação social e a desintegração do modo de produção comunitário entre os bárbaros.

Paralelamente, devido à crise interna do Império Romano, o número de guerreiros germânicos nas fileiras do exercito imperial tornou-se crescente, não só como soldados, mas também, em meio aos oficiais. Chegou ao ponto de um bárbaro ocupar a posição de magister militum, ou comandante-em-chefe do ocidente.


Invasões bárbaras

A primeira onda a assolar o Império Ocidental se iniciou na noite de inverno de 31 de dezembro de 406, quando uma confederação informal de suevos vândalos e alanos penetraram as fronteiras romanas ao cruzar o rio Reno congelado. Pouco depois, em 410, os visigodos saquearam Roma e, em 439, os vândalos tomaram Cartago. Estas invasões terminaram por fragmentar o Império Ocidental de maneira irreparável, por volta de 480.

Por esta altura, o primeiro sistema rudimentar de Estado bárbaro já havia se estabelecido. Os invasores optaram por realizar uma síntese de sua cultura com a romana. Na maior parte do território conquistado passou a imperar o chamado sistema de hospitalidade.

Os proprietários das vilas romanas doavam aos invasores um ou dois terços de suas terras em troca de proteção, e parece estar, justamente, fixado aí a origem do sistema de vassalagem que iria se popularizar com o feudalismo.Os bárbaros germânicos adotaram o cristianismo, e em contrapartida a lei germânica foi adotada pelos romanos.

Significativamente, a escravidão agrária em grande escala foi preservada, junto com outras instituições rurais básicas do Império Ocidental, incluindo o colonato. Inseridas nesta síntese cultural, política e econômica as aldeias se multiplicaram, enquanto as vilas, como unidades organizadas de produção, declinaram frente à incerteza e a anarquia dos novos tempos.

Lembrando o conceito de síntese de Marx, Perry Anderson afirma que a catastrófica colisão dos dois modos de produção, bárbaro e germânico, ou seja, do primitivo e do antigo, acabou por produzir a ordem feudal e dissemina-la por toda a Europa medieval.

A fusão do legado romano e germânico, o comunitarismo germânico e o clientelismo romano, produziram a vassalagem européia. Surgiu assim o modo de produção feudal, economia regida pela terra, na qual nem o trabalho nem os seus produtores eram considerados bens. O produtor imediato, o camponês, não era mais como no mundo antigo instrumento de trabalho, mas, passava a estar unido ao meio de produção, a terra e aos instrumentos, como força produtora.

Estaria fixada aí a gênese da contradição deste sistema, pois o camponês estava sujeito a jurisdição de seu senhor, mas, por outro lado, este senhor seria vassalo de outro senhor feudal superior, formando uma cadeia que se estendia até um monarca. O que representou uma descentralização do poder em meio a um sistema cuja função era hierarquizar e, portanto, centralizar.

Sendo assim, a produção feudal era incompatível com a finalidade do próprio feudalismo. Apesar disto, o sistema feudal representou um avanço, afinal realizou ao mesmo tempo a síntese e a dissolução do modo de produção comunal e escravo.

Aliás, o feudalismo puro jamais existiu em qualquer parte da Europa, pois, na Idade Média, coexistiram o trabalho livre e o escravo, independentemente da servidão. Não obstante, apesar da implantação do modo de produção feudal em substituição ao Império Romano do Ocidente, no extremo norte a cultura Escandinávia preservou a estrutura social viking.

Entre os vikings

O colapso da antigüidade não atingiu este povo, cuja organização camponesa armada, chefiada por um poder monárquico semi-eletivo e precário, assolou o mundo feudal do século VIII ao XI. Bandos vikings saquearam a Irlanda, a Inglaterra, a Holanda e a França. Pilharam até mesmo a Espanha, a Itália e Bizancio. Além do que, colonos vikings, acabaram por povoar a Islândia e a Groenlândia, criando um Estado territorial na Rússia.

Os ataques vikings contribuíram, assim, para a consolidação do feudalismo, gerando um clima de insegurança responsável pela descentralização do poder. Contudo, depois de três séculos de ataques e colonizações além-mar, a dinâmica da expansão viking chegou ao fim com o último grande ataque norueguês à Inglaterra em 1066. O sistema feudal e sua organização militar terminaram prevalecendo sobre os ataques vikings.

O feudalismo.

Na esteira das invasões vikings, Perry Anderson sustenta que a dinâmica feudal surgiu propriamente no século X, expandindo-se no XI, trazendo inúmeras inovações, tal como o arado de ferro para lavar, os arreios firmes para tração eqüina, o moinho de água e o adubo calcário, a despeito da fragmentação da sociedade.

Foram avanços responsáveis por um impressionante aumento da produção agrícola, que gerou, por sua vez, excedentes que intensificaram o comercio. É exatamente neste contexto que diversos setores da sociedade criaram um apetite pelo consumo de bens para o conforto e o luxo.

A usura, o empréstimo a juros aos grandes príncipes desprovidos de valor monetário, ganhou força, as moedas começaram a serem cunhadas novamente.Apesar da relativa prosperidade, a sociedade foi apanhada de surpresa por um recuo no desenvolvimento, foi à chamada grande crise do século XIV, gerada pelo aumento populacional (devido à melhoria das condições de vida), e a conseqüente falta de terras férteis em número suficiente para alimentar toda a população.

Estes fatores associados a safras ruins e umas série de catástrofes naturais, tal como a peste negra vinda do Oriente, causou, no século XIV, uma inevitável escassez de dinheiro que afetou as operações bancarias e o comércio. Foi visando enfrentar esta crise que, devido à necessidade de um poder fortemente centralizado, ou seja, de concentração de esforços, o feudalismo entrou em crise, surgiram então às monarquias nacionais.

No leste europeu

Ao contrário do Ocidente, o leste europeu, território relegado a segundo plano desde a antigüidade, que nunca havia sido integrado ao sistema imperial romano, sofreu um lento desenvolvimento agrícola. Sucessivas ondas de invasões contribuíram para a formação de uma cultura pastoreira nômade.

O primeiro e mais famoso destes choques foi o sombrio ataque dos hunos, que precipitou a queda do Império Romano no século V, seguido pela invasão dos ávaros no século VI, da cavalaria búlgara no VII e dos nômades magiares no XI e XII.

Estas inúmeras invasões forjaram uma sociedade baseada em um sistema de produção móvel, com tendência a submissão ou agregação a outros povos, ao mesmo tempo preparado para a guerra, constituindo Estados predatórios. A não utilização das terras deixou reservas disponíveis que, com a influência do feudalismo ocidental, passaram a ser utilizadas mais tarde.

Como no Ocidente, o expansionismo Viking estimulou a formação de feudos no leste europeu, no entanto, nestes, dada sua formação tardia, os camponeses possuíam mais privilégios e uma qualidade de vida melhor do que a de seus pares ocidentais, embora certas inovações tecnológicas agrícolas só tenham chegado a alguns locais no século XIX.

De qualquer modo, a proximidade com o Oriente fez apareceram rotas comerciais que estimularam o aparecimento e crescimento das cidades no leste europeu.Surgiram, assim, centros urbanos controlados por comunas independentes, com um próspero comércio exportador e animada vida política.

A sociedade do leste europeu era muito mais dinâmica que a ocidental, senhores feudais moravam nas cidades próximos a burgueses, enquanto estes adquiriam feudos. Contudo, a crise do feudalismo europeu atingiu também o leste, porém, mais tarde que o ocidente.

No século XIV, terras e cidades foram deixadas abandonadas pela população que migrou mais para o leste em busca de novas terras em substituição as de solo esgotado. Como havia muita terra, quando se esgotou o solo, a melhor solução foi à migração.

A resposta a crise foi à extinção das cidades e a perda de direitos dos camponeses do leste, houve um endurecimento do feudalismo que persistiu até o século XIX.

Concluindo

Paralelamente a esta situação no Ocidente, o Império Romano sobreviveu no Oriente. A capacidade de Bizâncio de repelir ou assimilar com sucesso as invasões foi o fator determinante. Porém, o Império Bizantino ficou estático entre o modo de produção escravo e feudal, o que levaria a sua extinção.

Sua agricultura, por exemplo, ficou estagnada não registrando avanços significativos. Assim, o expansionismo Otomano foi responsável por sua queda no século XV. Segundo Perry Anderson, o mundo medieval terminou em uma crise generalizada tanto no Ocidente como no Oriente. O que abriu caminho, no século XV, para a ascensão das monarquias nacionais absolutistas.

Síntese da retratação da antigüidade, Passagens da antigüidade ao feudalismo narra, de fato, o modo pelo qual, de formas diferentes, o Ocidente europeu, o leste, e o Oriente passaram da antigüidade ao feudalismo, constituindo realmente diversas passagens intercruzadas de um modo de produção ao outro.

quarta-feira, 28 de março de 2012

O Tratado dos Viventes

Formação do Brasil no Atlântico Sul – Séculos XVI e XVII” –
Luiz Felipe de Alencastro.


O argumento central do livro é que “a colonização portuguesa, fundada no escravismo deu lugar a um espaço econômico e social bipolar, englobando uma zona de produção escravista situada no litoral da América do Sul e uma zona de reprodução de escravos centrada em Angola”. Para o autor, as duas partes “se completam um só sistema de exploração colonial”.

Mais do que escrever um livro sobre a história do período colonial vivido pelo Brasil, Luiz Felipe de Alencastro mostra a importância de não analisá-lo como uma época reclusa ou apenas ligando-o às rédeas metropolitanas: é preciso enxergar além. É preciso enxergar um mundo ultramarino no qual a América portuguesa se incluía. A formação do Brasil e o sentido da colonização, vertentes delicadas dos estudos históricos brasileiros e, às vezes, evitada pelos historiadores, são lidadas pelo autor, que procura mostrar como o “Brasil se formou fora do Brasil”.

Os conflitos entre portugueses, espanhóis e holandeses no século XVII permitem vislumbrar o funcionamento deste sistema e as particularidades que o marcaram naquele século. Os traficantes portugueses arremataram todos os Asientos leiloados pela Coroa Espanhola durante a União Ibérica. Assim eles passaram a controlar o mercado escravista hispanoamericano. A mão de obra de africanos se tornava necessária pela grande mortalidade indígena no trabalho das minas, mas a Espanha não tinha estrutura para fazer seu próprio tráfico. Os desembarques dos assentistas se concentravam em Cartagena, Vera Cruz e Buenos Aires. Boa parte da redistribuição se fazia por terra, gerando uma grande mortandade entre os escravos. Durante o período do Asiento, os portugueses montaram duas fortalezas no litoral (Luanda e Benguela) e três no interior (Muxima, Maçango e Cambambe). Após 1640, parte da estrutura gerada pelo capital do Asiento se encaixa no sistema de tráfico integrado ao Brasil.

O autor aponta como formou-se a colonização: ela não era um processo já pronto, mas sim um resultado de aprendizado dos colonos. Em seguida, mudando de margem atlântica, a análise vai à África, focando nas rotas comerciais das caravanas, e como elas foram vencidas pelas caravelas, a partir de análises materialistas e de ideologias cristãs. A "transmigração" negreira do atlântico-sul novamente endossa o coro da impossibilidade de separação das costas atlânticas. Este "miolo negreiro" tinha como centro a capital lusa e Alencastro parte a mostrar como se articulava essa Lisboa com o tráfico de escravos, passando por banqueiros, asientistas e perseguições a cristãos-novos, e apresenta mais uma face ao processo, quando cogita o "comércio triangular negreiro”.

A sociedade escravista brasileira não se ocupava somente do trato negreiro. Para não negligenciar esse aspecto importante, o autor apresenta a escravidão indígena na América portuguesa. O interesse na preservação das sociedades indígenas passava por vários aspectos, desde um aliado em potencial aos assédios estrangeiros ao novo mundo, potencializados pela fraca presença militar, até a opção ideológica de evangelização. Em seguida, a evangelização negra é tratada por Luiz Felipe de Alencastro, que traz à tona a teoria fundamentadora de Padre Antônio Vieira: só os negros cristãos conheceriam o resgate eterno do Paraíso. Os outros, vivendo no paganismo na África, estavam condenados ao Inferno.


Engana-se, porém, quem pensa que o tráfico era só o tráfico. Ou, melhor dizendo, que era só um negócio. Era também uma estratégia. Era a maneira de Portugal segurar as pontas de seu império atlântico, e aqui se dá à expressão um sentido literal – segurar as duas pontas, a americana e a africana, do espaço sob seu controle. Do abraço entre as duas costas da bacia sul-atlântica, por mais que seja esse um abraço tétrico, baseado, como diz o título do livro, no trato dos viventes, vale dizer, no comércio de seres humanos, surgem as condições nas quais seria criado o Brasil. "De conseqüências decisivas na formação histórica brasileira, o tráfico extrapola o registro das operações de compra, transporte e venda de africanos para moldar o conjunto da economia, da demografia, da sociedade e da política da América portuguesa", escreve o autor.

O autor chama a atenção da importância dos índios para a construção de canoas e de barcos em estaleiros fluminenses e vicentinos. No Rio de Janeiro teria sido construído o galeão Padre Eterno, de 2 mil toneladas e que poderia comportar 144 canhões. Era o maior navio do Império Português, pertencente a Salvador de Sá. Finalizando o raciocínio sobre a relação entre a queda nas importações de africanos e o intenso apresamento de índios, o autor considera que: “O índios do Sul não suprem a falta de africanos no Norte, mas ficam cativos em São Paulo e no Rio de Janeiro cultivando alimentos que fazem as vezes dos produtos europeus, platenses e brasileiros nas praças de aquartelamento da América Portuguesa” (p. 198).
As invasões holandesas e seus conflitos, que dominam a próxima parte da análise, são um ponto alto na análise de Alencastro: a presença holandesa no nordeste da América Portuguesa e em Angola, acionou os colonos de modo que ficou provado que sem um lado não existia o outro. Protagonizado pelos fluminenses – surgindo a figura do paulista como "anti-metropolitano" e "anti-jesuíta", um quase vilão na construção deste mundo Atlântico –, o movimento brasílico inicia a retomada de Angola assim como a expulsão holandesa do nordeste. Fechando o desenvolvimento, o último capítulo tem como foco a "Angola Brasílica", fruto do universo do Atlântico-Sul, e a maneira com que foram impostos os interesses luso-brasílicos na África.
Ao afirma que “... na costa ocidental da África se cristaliza, em detrimento de Lisboa, uma aliança concreta, incontornável, unindo luso-brasileiros e luso-africanos” (p. 238), o autor está se referindo a uma importante remodelagem na relação entre colônia e metrópole. Ao mesmo tempo, defende que teria havido uma transformação geográfica no seio da América portuguesa. Na segunda metade do século XVII, quando Salvador Correia de Sá volta ao Rio de Janeiro, abre-se na capitania – que foi bem sucedida na expulsão dos goitacás – um vasto território a ser ocupado com engenhos de açúcar. Para aí também tinham se mudado colonos fugidos dos conflitos com os holandeses no Norte. Aí também se desenvolveriam, via porto do Rio de Janeiro, intensas relações comerciais com Angola e com Buenos Aires. No começo do século seguinte, com o ouro, a região seria ainda mais dinamizada.

O livro de Alencastro não pretende ter personagens centrais – seu centro é o oceano e o que se traficava por cima dele –, mas, se fosse para ter, dois ressaltam como evidentes candidatos ao posto de artífices maiores do império luso sul-atlântico, ambos, não por acaso, luso-brasileiros. O primeiro é o Padre Antônio Vieira, dono de uma das maiores inteligências do tempo, cuja influência alcançava cortes e dioceses ao redor do mundo, e cujo domínio do idioma e elegância de expressão fez Fernando Pessoa honrá-lo com o título de "imperador da língua portuguesa". Se a Igreja forneceu uma ideologia ao escravismo e ao tráfico, ao apresentá-los como fatores de evangelização, e se os jesuítas, dentro da Igreja, foram os que mais propagaram tal conceito, entre os jesuítas foi Vieira quem o apresentou com mais audácia. Ele aparece no livro um pouco por toda parte, mas com mais destaque quando Alencastro cita o sermão XIV, em que, dirigindo-se aos africanos, defende que foi Nossa Senhora quem os trouxe ao Brasil, para que encontrassem a verdadeira fé. "Oh", diz Vieira, "se a gente preta tirada das brenhas de sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus, e Sua Santíssima Mãe, por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!"

Ao finalizar, a pergunta é retomada: o que Luiz Felipe de Alencastro quer dizer com a “Formação do Brasil no Atlântico Sul”? Talvez queria compartilhar da idéia de Charles R. Boxer, que alega a existência de um imperium português. Talvez queira também mostrar que é preciso abrir os olhos para entender o Brasil como parte integrante de um processo e não como uma vítima da vontade lusitana. É claro que a metrópole teve a chance de exercer seu papel, e assim o fez, mas, assim como Portugal, Angola e Brasil também foram agentes históricos. E de tal maneira, formou-se um mundo entre essas partes. Simbiose, desenvolvimento mútuo que, inegavelmente, foi possível pela mentalidade lusa de governo e todos os entremeios sucedidos nos três séculos de colonização. Desta maneira, fica ainda mais inteligível o processo de formação do Brasil como "de um império a outro", conforme as idéias da Wilma Peres Costa. Por tudo isso, a obra de Luis Filipe de Alencastro é indispensável para, além do entendimento da formação brasileira, perceber e entender as relações humanas no tempo e espaço, de forma conjunta, o que é o cerne da análise historiográfica atual.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Resenha sobre o livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko




O livro O Renascimento de Nicolau Sevcenko na sua 20° edição vem acompanhado de uma entrevista do autor que traz uma serie de discussões que nos ajuda  compreender o  período histórico.



O Professor Nicolau ,  formado em História pela USP em 1981 e onde se doutorou e hoje faz parte dos quadros de professores,  se qualifica como “andarilho vacilante”  para representar sua  forma de pesquisa e de busca a História, “ um  sonâmbulo que é guiado por  sonhos” mostrando que um historiador  tem quer estar livre para  a  pesquisa e se deixa guia pelos objetos.



Na entrevista o autor sustenta que o interesse pelo tema Renascimento foi influenciado pelo meio social que convivia, de amigos e amigas da areia de História da Arte. Nos faz   compreender  que “esse conhecimento é importante  para nos  ilustra o processo de construção cultural do homem moderno e da sociedade contemporânea”.  Assinala que  nesse processo de queda do feudalismo e inicio do capitalismo onde diante da pobreza e miséria o capital surge  forte  e robusto, é muito  por  conta do individualismo que o renascimento foi  uns dos responsáveis. Citando uma fala de um personagem de Shakespeare:”Ouso tudo que é próprio de um homem, quem ousa fazer mais do que isso não o é.” afirmado a posição do homem enquanto centro.” Tudo que os renascentistas pretendiam era assumir a condição humana até seus limites, até as ultimas conseqüências

O livro trata do período dito renascentistas  entre o século XIII e meados  XVII um período grande de estudos dispostos em 87 paginas, que acredito ser  muito pouco para demonstra boa parte do que foi em todo seu apogeu esse movimento que em geral estudamos mais as matérias ligadas as Artes e Nicolau que apresenta  um recorte dessa Arte de certa forma no contexto e impacto social.



 Uma visão histórica do período mostra como estava a o Ocidente  europeu no fim da Baixa Idade Média, o crescimento econômico  o surgimento das  grandes cidades (burgos) e dos domínios do  mar mediterrâneo, destacando que o século XV foi o século do comércio.



Outro  fator  importante  seria os principais elementos que irá dar  força ideológica para o surgimento do Capitalismo e o fim do Feudalismo na Europa. Os elementos que levaram o fim do feudalismo também impulsionaram para que o movimento renascentistas tivesse a amplitude que teve como por exemplo a Peste Negra, uma doença ligada a pouca higiene e falta de saneamento básico  que ocasionou a morte de milhões de pessoas, afetaria demograficamente  as cidades e regiões da Europa. Fazendo  com que os Senhores feudais comprasse mais taxas dos camponeses que no processo de arrocho e eclodiram varias revoltas nesse período, por  fim, o sistema assalariado e de arredamento fez com que se criasse o sistema do dinheiro, dando inicio assim ao capitalismo.

Nesse processo quem saiu  fortaleceu foi a Monarquia  que teve  como problema para organizar um Estado com força e  único, onde  antes só a havia o poder pulverizado dos feudos.  Foi então criado um corpo burocrático para a nova  ordem política social e econômica , a partir  é  claro dos escalões da burguesia, tendo como referencia as casas  financeiras e os  grandes traficantes, essas  casas comercias  possuíam a  burocracia necessária e já habitavam dimensões nacionais e internacionais.

Com a nova  ordem social as relações individuais de empregados e empresários se colocaram como series isolados na sociedade. Esse começaram a ser regidos pelas as leis do mercado, conduzido os indivíduo para a livre concorrência, foi assim que se deu varias transformações nas técnicas nas areias de agricultura, metalurgia e diversas outras  forma do trabalho .

 É nesse  momento também com a invenção do relógio que o tempo começa a ser vendido, cada minuto agora tem valor, não muito diferente dos tempos atuais. Então o autor começa a destaca o papel dos intelectuais nesse processo.

Os humanistas tem papel central em todo esse  crescimento e mudança de comportamento do período, esses  são os homem que “ desde o século XIV vinhas se esforçando para  modifica e renovar o padrão de estudos ministrado nas universidade medievais” que nesse  contexto são controlados basicamente  pela  Igreja. Eles queria radicaliza  a universidade, sair  de uma perspectiva da alma( ligado a Igreja) para o estudos  dos humanos , e esse movimento deu origens as diversas areias de estudos como exemplo a história, matemática etc



Os  humanistas consideravam como mais perfeito e expressivo a cultura antiga derivada do paganismo, não que eles tivessem virado ateus, ou contrários vários eram ligados direta ou diretamente a igreja, eles desejam na verdade reinterpreta  a  mensagem do Evangelho com base nos  estudos do tempos antigos.

O autor nos  mostra que um ponto importante  a se destaca no pensamento  humanista é a critica da cultura tradicional, fazendo uma leitura permanente e continua voltada  para  a concepção de mudanças, para  a transformação das mudanças, contraponto os teólogos da igreja com seus princípios medievais que levava ao “pensamento único vindo de Cristo e  do Juízo final”.